Um passado de dissabores e violência, mas também de lutas, idealismo e propósitos. Não é errado contar o final de uma estória quando esta se refere à história recente de um país e seus cidadãos. Uma história que ainda influencia e entremeia as relações políticas, econômicas e culturais da sociedade brasileira. Esse é o objetivo da peça Filha da Anistia, que vai levar uma reflexão sobre o período da ditadura pós-golpe de 64 ao Teatro José Maria dos Santos, em Curitiba (PR), de 30 de agosto a 2 de setembro. Um debate sobre o tema, com o elenco, convidados e o público, segue após o fim de cada uma das apresentações. A entrada é gratuita.
O espetáculo é uma realização da Caros Amigos Cia de Teatro, em parceria com a Associação de Pesquisadores sem Fronteira e o Projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Filha da Anistia toca nas chagas dos “anos de chumbo” de forma consciente e delicada, buscando provocar um olhar mais crítico sobre a história recente do país, sobretudo nas gerações posteriores à Lei de Anistia.
De acordo com os autores Alexandre Piccini e Carolina Rodrigues, o intuito é mostrar que o que aconteceu não diz respeito apenas aos diretamente envolvidos. “Buscamos trazer à tona uma reflexão sobre as consequências das atrocidades cometidas durante o período, tanto sob o ponto de vista individual, dos que sofreram com as graves violações aos Direitos Humanos, quanto do ponto de vista coletivo, de uma nação desfigurada por mais de vinte anos de privação das liberdades democráticas. É impossível construir um futuro sem compreender o presente. É impossível compreender o presente sem conhecer o passado”.
Durante o espetáculo, percebe-se que direito à Memória, à Verdade e à Justiça, é uma das principais tônicas da abordagem provocativa do texto. “Filha da Anistia é uma peça teatral que expressa o questionamento legítimo de uma geração que não vivenciou a ditadura militar e para quem foi omitida a informação sobre o acontecido; por isso mesmo clama pela verdade dos fatos, perseguições, prisões, torturas e desaparecimentos forçados de opositores políticos”, destaca a Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes.
Para o diretor da peça, João Otávio, a intensidade dramática dos diálogos e o jogo cênico de Filha da Anistia tiram os “anos de chumbo” dos anais da História e os colocam no cotidiano, na vida atual das pessoas. “É uma aproximação que causa perplexidade e esclarecimento ao mesmo tempo”, destaca.
A trama
Em Filha da Anistia, a personagem Clara é uma jovem que, após a morte de sua avó, parte em busca do pai que jamais conheceu e, nessa procura, um passado de mentiras e omissões, forja do durante a ditadura militar, acaba sendo desvendado. Todo o seu mundo e suas verdades caem por terra diante das descobertas sobre o passado de sua família, que resvalam num período da história do país que poucos de sua geração conhecem.
A peça provoca no espectador uma reflexão sobre a época usando como metáfora os desencontros de uma família despedaçada pela truculência do período. Mas também evoca a necessidade de reconhecimento da própria identidade das pessoas enquanto participantes ativos das mudanças e transformações da sociedade.”Para quem ainda insiste que a anistia é sinônimo de esquecimento da barbárie do passado, Filha da Anistia é um libelo contra a ignorância e a insensibilidade”, ressalta Paulo Abrão, Secretário Nacional de Justiça e Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Serviço:
Peça: “Filha da Anistia”
Local: Teatro José Maria dos Santos (Rua 13 de Maio, 655
80510-030 – Curitiba – PR)
Data: 30 de agosto a 2 de setembro
Horário: 30/8 às 20h; 31/8 às 16h e 20h; 1/9 às 20h e 2/9 às 20h.
Ingressos: gratuito
Telefone: (41) 3322-7150 / 3324-8208.