Enquanto a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2008 segue a todo vapor desde a última quarta-feira (ela acaba hoje), um evento paralelo na cidade fluminense também é fonte de novidades. Trata-se da Off Flip, que vem acontecendo anualmente desde 2005. Um dos projetos presentes no evento, este ano, é o eBook Paraty, focado exclusivamente em lançamentos de livros eletrônicos. Esta semana, cinco autores aproveitaram o evento para lançarem títulos neste formato.
O mercado dos eBooks é promissor. Pelo menos é o entendimento do engenheiro especialista em web e idealizador do projeto, Antônio Carlos Siqueira. Ele está de olho em um mercado de cerca de 20 milhões de novos leitores, vindos nem só de uma geração já acostumada a ler na tela do computador, mas também das classes D e E, ainda relativamente novatas no mundo digital.
?O eBook permite a inclusão de uma quantidade fantástica de informações adicionais?, diz Siqueira. Ele acredita que os livros eletrônicos têm um potencial ainda pouco explorado. De acordo com ele, poucos eBooks contém material extra, que não pôde, por exemplo, ser incluído na obra impressa.
Para Siqueira, a maioria dos eBooks disponíveis são obras de domínio público redigitadas, ou digitalizadas. ?Não são produtos atraentes, são como uma fotocópia?, analisa. ?Então, por que não melhorar isso, transformar em um modelo de negócio??.
O engenheiro diz que os livros impressos muitas vezes deixam de incluir imagens, por exemplo, por causa do custo. ?Isso acaba nivelando por baixo. Com o eBook, é possível nivelar pelo alto. Se eu quiser, posso colocar uma letra de cada cor, com o mesmo custo. Tudo é possível!?, diz, lembrando que os eBooks permitem, ainda, o uso de links para sites relacionados ao tema do livro, e até de som e vídeo. ?Eu posso enriquecer a narrativa de acordo com o que o autor quer passar. Há muitas possibilidades?.
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A psicóloga e escritora Joana de Vilhena Novaes afirma que o eBook traz a oportunidade de um contato muito mais próximo com o leitor. |
Já que o custo de impressão é inexistente, o preço final do livro eletrônico também tem tudo para ser baixo, segundo Siqueira. ?Estamos fazendo o possível para que custe cerca de um terço do valor do livro impresso. É a democratização da informação?, anima-se.
Apesar de fazerem parte do mesmo mercado, Siqueira não acredita que os eBooks sejam concorrentes dos livros impressos. ?Eles vão se separar. Pois é um outro produto?, explica. Para ele, os meios se complementam. O eBook seria como, por exemplo, um DVD com extras.
Portabilidade
Um desafio para os eBooks ainda está na dificuldade em lê-los. ?Nós lemos livros em posições de relaxamento, diferentemente da postura que temos na frente do computador?, pondera Siqueira. ?Então dependemos de novos hardwares que nos permitam ler com o mesmo prazer e postura?, completa, citando o Kindle, aparelho do site Amazon.com.
?Mas o Kindle ainda é caro?, diz o engenheiro. De fato, o dispositivo custa 359 dólares na própria Amazon. Siqueira lembra também que fabricantes como a Sony e a HP estão desenvolvendo produtos similares, o que pode contribuir para uma diminuição no preço. Atualmente, quem tem notebook pode estar bem servido. ?É possível ler um eBook com relativa facilidade nos laptops?, diz.
De qualquer forma, há outras grandes vantagens dos eBooks em relação aos livros impressos: ?Eu posso carregar mais de mil livros dentro de um pen drive?, calcula.
Além disso, a distribuição dos eBooks é bem mais simples. Siqueira diz que os livros podem ser vendidos em livrarias virtuais, através das operadoras de telefonia celular, e até mesmo diretamente em lojas físicas. ?Já existem algumas vending machines instaladas. E também as livrarias podem se preparar para vender livros virtuais, que seriam descarregados nos pen drives dos clientes?, conta.
Informação atinge novas fronteiras a custos mais baixos
Um dos eBooks que foram lançados esta semana na Festa Literária Internacional de Parati foi O Intolerável peso da feiúra. Sobre mulheres e seus corpos (Ed. PUC/Garamond – 2006), da psicóloga Joana de Vilhena Novaes. Para ela, lançar sua obra em formato eletrônico traz a oportunidade de um contato muito mais próximo com o leitor. ?Tenho a possibilidade de atingir um público muito mais amplo, pois o eBook barateia muito o custo?, explica.
Ela diz que recebe ?centenas de emails de alunos interessados em orientações de trabalhos acadêmicos?, mas nem sempre eles têm acesso a boas bibliotecas. Portanto, a possibilidade do eBook é, para ela, um importante passo para a democratização da informação. ?E o segmento jovem lida com muita intimidade com a tecnologia. Além do mais, hoje só se trabalha em computador, ninguém mais escreve à mão.?
Joana, que é doutora em Psicologia Clínica e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio, conta que o livro é fruto de 12 anos de pesquisas sobre o que chama de ?ditadura da magreza?. A versão eletrônica da obra vem com pequenas modificações em relação à original, e com alguns acréscimos: ?O que venho pensando e pesquisando desde que escrevi o livro?.
Mais informações sobre a autora, no site www.joanadevilhenanovaes.com.br.
Outras obras lançadas no eBook Paraty da Off Flip:
– Zul – O avesso e o direito, de Anna Sharp (www.annasharp.com.br);
– Cambalhotando no céu, de Luciana Savaget (www.tricotando.com);
– A estética da contradição, de João Ricardo Moderno (www.filosofia.org.br);
– Marcas do tempo, de Araken Hipólito da Costa. (HM)