Irmã do ex-senador José Eduardo Vieira, a escritora e agora blogueira Maria Christina de Andrade Vieira lançou, na semana passada, o blog des(a)ssossego. Empresária de destaque na área cultural e mestranda em Comunicações e Linguagens, Maria Christina foi idealizadora do “Natal na Avenida” do antigo Banco Bamerindus do Brasil (hoje o Natal do Palácio Avenida, HSBC).
Lutando contra um câncer, e concluindo o seu décimo livro, ela conversou com exclusividade com a reportagem de O Estado em entrevista onde ela fala das novas tecnologias que estão revolucionando a comunicação no mundo, além de analisar a conjuntura social e cultural do momento.
O Estado: Você atingiu um certo prestígio como consultora empresarial e já é reconhecida como escritora. Porque você resolveu virar blogueira?
Maria Christina: Essa ideia é bem antiga, não começou agora. Eu, que colaborei com veículos de imprensa, queria voltar a ter um espaço de opinião e um espaço para me comunicar. O grande motor desse momento é o mestrado que estou fazendo em comunicação e linguagens, que me fez ficar muito interessada em usar as redes sociais e essas novas mídias e entrar nesse mundo que acho que nós já não conseguimos mais viver sem isso. E essa idéia do blog é para que eu pudesse ter um espaço para divulgar opinião e escrever com liberdade.
O Estado: Quais seriam suas dificuldades em utilizar as ferramentas de comunicação da internet?
Maria Christina: A linguagem da internet é mais ligeira, mais curta mais sintética e esse desafio é também bastante interessante. Então eu entrei em Facebook, em Twitter, em blog, em fim, em redes que podem ser usadas como uma extensão, um complemento do meu texto do livro.
O Estado: O que você pretende publicar nessas redes sociais?
Maria Christina: O que eu tenho feito já no Facebook e no Twitter é muito mais do que falar de mim, mas falar das descobertas daquilo que eu faço. Ás vezes até umas “filosofadas”. É o que eu sempre fiz, é provocar as pessoas à pensarem. Quero compartilhar o que eu estou lendo ou algum conhecimento, alguma coisa que eu tive acesso. Poder trazer minhas inquietações, enquanto inquietações do País ou inquietações como cidadã do mundo. Temas comportamentais e cotidianos.
O Estado: Assuntos relacionados à questões sociais, econômicas, culturais e políticas também estarão em pauta?
Maria Christina: Vou tentar ter um critério no blog para debater política, sendo apartidária. Eu tenho estado ao mesmo tempo triste e contente com o nosso País. Eu vejo o País hoje com muitas coisas boas e positivas. A própria visibilidade da corrupção é positiva. O que é negativa é a impunidade. Nos outros países também há corrupção, mas há punição. Aqui não há punição. Cada vez mais fica evidente que esse crime do colarinho branco que atinge determinadas hierarquias sociais não tem punição.
O Estado: Como você acredita que o fator política corrobora para a impunidade?
Maria Christina: Eu sou vítima de um processo político com relação ao Bamerindus. Eu tenho duas ações na justiça, das mesmas prerrogativas em que todas as pessoas ganham, onde eu nunca consegui atingir um ponto positivo em função de um sobrenome. Isso porque a decisão acaba passando por questões políticas.
O Estado: Como você avalia o momento político do País?
Maria Christina: Eu vejo coisas desse governo, especificamente, como o bolsa família, que considero como uma esmola indigna. Eu acredito que eu não tenho que dar o peix,e, eu tenho que ensinar a pescar. Acredito que os programas de governo são assistencialistas. O presidente Lula tem falas dicotômicas. Antes ele era contra programas assistencialistas e hoje ele entende que esse programa é positivo. Não discuto o Lula, pois o governo não é só o Lula, mas um conjunto de pessoas que delibera. E todas as deliberações são de caráter eleitoreiro, assistencialista e eu acho isso muito trágico.
O Estado: Como profissional de mídia, você acredita que a comunicação exerce uma liberdade de expressão na sua plenitude?
Maria Christina: O que mais me inquieta é uma certa aura de poder sobre a imprensa que esse governo tenta minar, com várias sutilezas e várias questões que a gente tem acompanhado. Não sei se outras pessoas, fora os profissionais de imprensa, tem a percepção da seriedade de uma somatória de pequenos atos, pequenas comportamentos, atitudes, represálias, da postura desse governo em relação a mídia. Se a gente perder essa liberdade, não sei o que nos sobra.
O Estado: Como idealizadora do “Natal na Avenida”, que já se consolidou na agenda cultural de final de ano em Curitiba, você acredita que faltam ações da iniciativa privada ou políticas públicas de incentivo à cultura?
Maria Christina: Sérias, sim. Nesse ponto eu sempre gosto de mencionar dois aspectos. Eu acho que tudo aquilo que é social é função do estado. Se deve ou não a iniciativa privada fazer isso, eu defendo que sim, porque, pelas características do País, acho que se cada um fazer alguma coisa do ponto de vista social, cultural e de educação, a gente amplia. Mas continuo achando que é atribuição do estado. Eu pago impostos para que o governo retribua isso, mas não tem funcionado assim. Então se isso é marketing, se as empresas vão usar isso, são questões que permeiam esse debate.
O Estado: O que essas ações devem priorizar?
Maria Christina: O “Natal na Avenida” e outros trabalhos que eu fiz, todos eles tem sempre uma base de educação e um caráter que “linka” educação, cultura e social. Projetos em que eu estive envolvida buscam esses três aspectos. É um instrumento válido, porque se você pensar em multinacionais e empresas de grande porte, se elas fizerem trabalhos modelos, como outros países fazem, a gente pode multiplicar isso. Agora, em nenhum momento eu tenho esperança de que isso modifique o País como um todo. Eu acho que a raiz do problema é atribuição do estado e tem que ser corrigida no estado.
O Estado: O que falta para que mais empresas da iniciativa privada adotem uma postura que possa levar cultura para a população, usando os incentivos fiscais?
Maria Christina: Eu vejo algumas empresas temerosas ou não sabem como usar essas leis, ou tem o temor de uma fiscalização da Receita Federal. Não que sejam empresas com ações indevidas, mas se for passar a limpo sempre vai encontrar algum probleminha, alguma coisa que pode intimidar a efetivação de ações. Mas eu concordo, acho que poderia ser feito muito mais.
O Estado: De que modo essas ações podem servir como ponto positivo para as empresas?
Maria Christina: Na década de 90 a gente não falava em marketing cultural, falava em marketing social. O Philip Kotler trazia isso no início da década de 90. Mas falar essa palavra era um tabu nas empresas, como se não pudéssemos fazer da ação social um marketing. Hoje, não apenas se fala em marketing cultural, como também em responsabilidade social. Então, se você pegar o conceito de responsabilidade social que é um conceito que sai da ética empresarial, eu acho que é super pertinente.
O Estado: Maria Christina por Maria Christina?
Maria Christina: Hoje é uma nova Maria Cristina que está muito ligada em escrever, estou mudando de casa, estou mudando um monte coisa na minha vida e entrando com tudo nas redes sociais. Eu acho que é uma caminho para quem gosta de comunicação. Para quem gosta de escrever é uma ferramenta riquíssima. Você ter uma capacidade de ciência, deixar ali uma reflexão curta como é o meu objetivo, em um, espaço como o Twitter que disponibiliza apenas 140 ou menos caracteres, é um desafio. Estou me divertindo muito com isso, estou aprendendo.