De passagem pelo Brasil para o lançamento de seu romance Degelo (Companhia das Letras), o escritor alemão de origem búlgara Ilija Trojanow, de 48 anos, foi impedido, na segunda-feira, 30, de embarcar em Salvador num voo da American Airlines rumo aos Estados Unidos para um encontro acadêmico. “Não me deram nenhuma razão ou explicação”, disse o escritor à reportagem.
Em texto publicado ontem, 1, pelo jornal Frankfurter Allgemeiner, ele comenta que suas críticas ao escândalo de espionagem da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) teriam motivado a proibição de sua entrada no País e conta em detalhes sua passagem pelo aeroporto de Salvador, quando uma funcionária da companhia aérea teria dito que seu caso era “especial”.
Já no aeroporto do Rio, no início da noite, enquanto esperava para embarcar de volta à Alemanha, o escritor afirmou que tinha um visto válido. “Eu me sinto prejudicado no meu trabalho de escritor e jornalista porque eu estava viajando para um grande colóquio sobre literatura alemã, onde eu seria um dos conferencistas.” Sobre o motivo da proibição do embarque, disse: “Eu só posso especular: não sou o primeiro jornalista crítico que foi incomodado pelas autoridades americanas. Qualquer que seja a razão, tal arbitrariedade não é aceitável numa sociedade democrática.”
Procurado pela reportagem, o Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se pronuncia sobre casos específicos de visto. A American Airlines não comentou o caso até o fechamento da edição.
Trojanow vai tentar viajar de novo para os Estados Unidos e diz que pretende descobrir por que está na lista negra. Este não foi o primeiro problema do autor com o país. No artigo do diário alemão, ele contou que no ano passado solicitou um visto – que foi negado – para atuar como professor convidado da Universidade de Washington em St. Louis. Depois de protestos da universidade, o visto foi concedido.
O alemão é, ao lado de Juli Zeh, autor de Angriff auf die Freiheit (Ataque à Liberdade), de 2009. O livro traz o subtítulo Obsessão Com a Segurança, Estado de Vigilância e o Desmantelamento dos Direitos Civis, assunto caro ao autor que já publicou artigos sobre o tema e que é coautor de carta aberta à chanceler alemã Angela Merkel, na qual questiona a posição do governo alemão acerca da questão da espionagem americana.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.