O escritor peruano Jose Maria Arguedas é atração do projeto Outras Leituras que neste mês de agosto encerra seu ciclo latino-americano. A leitura dramática que acontece nesta terça-feira (5), no Teatro da Caixa, terá um fragmento do romance “Os Rios Profundos”.
O curador literário do Outras Leituras, o poeta e professor Mário Domingues destaca que, com Arguedas, termina uma visão panorâmica da literatura hispano-americana do Continente, que contemplou alguns de seus aspectos fundamentais. “Tivemos o cosmopolitismo dadaísta de Cortazar e o realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez, ambos já familiares do público leitor brasileiro. Por outro lado, também foi abordada a invenção lingüística dentro de uma reflexão sobre o contraste entre a origem milenar das populações indígenas americanas e sua realidade de colônia diante do expansionismo mercantilista europeu. Características presentes em Roa Bastos e agora em Arguedas”, completa o curador.
Romancista, poeta e antropólogo, Arguedas escreveu sua obra em espanhol, mas parte de sua poesia está em quéchua, língua dos índios peruanos. Junto a Mario Vargas Llosa, ele é um dos maiores nomes da literatura de seu país no século XX. Iniciou sua carreira escrevendo contos com temática indígena, e desde então é possível perceber em seu espanhol uma irrefreável contaminação da língua quéchua, mais marcadamente na sintaxe e no vocabulário.
Mário Domingues explica que a literatura de Arguedas pode ser definida como “a substância lingüística da colisão entre essa a cultura indígena tradicional e a cultura européia, dita civilizada”. Esta realidade histórica peruana permite associar o escritor a um movimento “indianista” da literatura sul-americana. Em Arguedas, esta preocupação está já esboçada desde seu primeiro romance Yawar Fiesta (Festa de sangue).
No fragmento escolhido do livro “Os Rios Profundos” (de 1961) que será apresentado no Teatro da Caixa o escritor apresenta Ernesto, um menino proustiano que acompanha seu pai, advogado que viaja de vila em vila pelo interior do Peru. Entre as lembranças do que foi o povo Inca, vivas na arquitetura de Cuzco, surgem alegoricamente, através das relações de distância e subserviência entre as personagens, as estruturas hierárquicas das relações inter-raciais, feitas de violência e exploração (antes, durante e depois da colonização). Vale citar que a tradução do romance é da poeta Josely Vianna Baptista, que tem na bagagem 60 livros de autores hispano-americanos traduzidos, e que ainda divide com Mário Domingues a curadora do projeto. Foram dela também as traduções lidas nas edições Cortazar e Roa Bastos do Outras Leituras.
Jose Maria Arguedas nasceu em 18 de janeiro de 1911, na província de Andahuaylas, localizada ao sul dos Andes peruanos. Ali cresceu entre índios Quéchuas, com quem aprendeu sua língua antes do espanhol dos colonizadores. O jovem Arguedas estudou antropologia na Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Em seu país, sofreu a incompreensão da militância indianista, que confundiu sua literatura (primordialmente um objeto estético) com poetização do modo de vida tradicional indígena.
Sua última obra, El Zorro de arriba e el zorro de abajo (A raposa de cima e a raposa de baixo), de mais liberdade e ousadia formais, findou inacabada. Arguedas suicidou-se em 1969, sob depressão profunda.
O leitura do fragmento do livro “Os Rios Profundos” tem a direção de Moacir Chaves. No elenco estão os atores Enéas Lour e André Coelho. Os livros arrecadados com essa edição do Outras Leituras serão doados ao Projeto PIÁ de Campina Grande do Sul.
Serviço
Espetáculo: “Outras Leituras”, com fragmento do romance “Os Rios Profundos” de Jose Maria Arguedas.
Local: Teatro da Caixa
Data: 05/08/2008 (Terça-feira)
Horário: 20 horas
Endereço: Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Edifício Sede II
Recepção: 2118-5111
Ingresso: um livro não-didático
Lotação máxima do teatro: 123 lugares