Considerado por muitos como o principal contista brasileiro do século XX, por outros como o melhor literato em atividade, e visto por alguns críticos como uma pedra em seu sapato, o escritor curitibano Dalton Jérson Trevisan lançou Rita Ritinha Ritona apenas duas semanas após 22 contos selecionados, sua penúltima obra, chegar ao mercado. Na última obra, Trevisan narra relações humanas utilizando uma fórmula única que distingue seu trabalho de qualquer outro, a fórmula daltônica, única, pois nela está a visão íntima do escritor, que se permite comunicar com o mundo apenas por meio de contos. Prestes a completar 80 anos de vida (14 de junho), conhecido por seu saudosismo e a escrita rápida e ácida, já escreveu mais de trinta livros.
Os contos de Dalton são inspirados em suas andanças pela cidade (se supõe que ele só se locomova a pé) e pela leitura de livros. Avesso ao presente, sua busca está no passado. A imagem da antiga cidade permanece em seus traços concretos e abstratos. No papel, o velho vampiro ataca sem máscara ou receio; na vida, recluso em sua residência vive em uma cidade inexistente e ataca com letras, ignorando o rumo que a vida de Curitiba tomou.
O que se pode afirmar a respeito de Dalton Trevisan é que nasceu em Colombo, Região Metropolitana de Curitiba, e, antes de se tornar escritor, formou-se em Direito e teve experiência como crítico de cinema e repórter policial. Desde cedo contrário à exposição direta, trilhou seu caminho indiferente à repúdia que jornalistas, escritores e críticos sentiam por sua presença marcante em demasiado para ser ignorada. O primeiro livro surgiu em 1945, Sonata ao luar, e o segundo, Sete anos de pastor, em 1946. As duas obras são repudiadas por Trevisan – entre os inúmeros boatos criados em cima do escritor, existe aquele de que passou anos percorrendo sebos da cidade para esgotar os dois títulos do mercado livreiro. Hoje as duas obras são raridades.
A consagração na carreira de escritor veio com o sucesso Novelas nada exemplares (1959), que lhe rendeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Com a fama atingida de bom grado ou não, com o passar dos anos Dalton restringiu seu circulo de convívio ao mínimo. Sem dar entrevistas ou permitir que o fotografassem, ganhou a alcunha de vampiro de Curitiba. O apelido dá o título a um de seus principais livros, vampiro de Curitiba (2004) e surge em contos como Adeus, Vampiro, presente no último livro.
O isolamento parece ser a única forma que Trevisan visualizou para não ser atingido pelo temido marketing social que assola o mundo contemporâneo. Ao que se sabe, entre seus contatos estão antigos livreiros, comprometidos em não mencioná-lo sob nenhuma hipótese. Caso contrário, o vampiro abriria mão de mais uma pessoa em seu círculo de amizades.
Serviço:
Rita Ritinha Ritona, de Dalton Trevisan, publicação da Editora Record, 17 contos, 124 páginas. À venda nas principais livrarias por R$ 24,90.
Escritores anônimos
Dalton Trevisan não é o único escritor que vive no anonimato. No Rio de Janeiro, o mineiro Rubem Fonseca, também formado em Direito e nascido em 1925, é outro contista de destaque nacional que prefere o isolamento.
Formando o time estão os americanos Thomas Pynchon, autor de V (1962), após a publicação fugiu da imprensa e há poucas fotos conhecidas, e J. D. Salinger, que depois do fenômeno da literatura jovem Apanhador no campo de centeio, refugiou-se no interior dos Estados Unidos.