Os autores são unânimes: vida de quem escreve novela não é vida. A rotina se resume, basicamente, a acordar, escrever muito e dormir pouco. No dia seguinte, e no outro também, começa tudo novamente por até oito meses. É claro que a profissão é para lá de bem-remunerada. A novela vira a única coisa da sua vida. "Eu ainda estou cansado por ter escrito Dancin Days, em 1978", ironiza Gilberto Braga. Diante de tantos capítulos, alguns deles, como Walter Negrão e Aguinaldo Silva, preferem manter um rígido horário de trabalho. Já outros, como Manoel Carlos e Edilene Barbosa, não seguem uma rotina fixa, mas também têm certos hábitos.
O dia de Walter Negrão, que escreve Como uma Onda, começa às cinco da manhã. Ele escreve até a hora do almoço e, depois de comer, dorme por cerca de duas horas. Em seguida, trabalha até meia-noite. Negrão também faz questão de estar bem confortável para escrever. Ele trabalha de pijama e com uma blusa por cima. "Ela já está toda rasgada, mas coloquei na cabeça que essa blusa me dá sorte", justifica. Quem também é bastante metódico é Aguinaldo Silva. Mas, ao contrário de Negrão, ele sai arrumadinho para trabalhar do quarto para o escritório, na própria casa. E sempre cumpre o mesmo ritual: acorda às cinco e meia da manhã, toma banho, faz a barba, coloca perfume e se veste com cuidado. "Se eu ficar de pijama e sandálias em casa, não rendo a mesma coisa", justifica. Às 7h30, ele vai para o segundo andar de sua casa e trabalha até o início da noite. Mas a rotina não pára por aí. Aguinaldo vai, diariamente, a um supermercado próximo a sua casa para comprar os ingredientes do seu jantar, que não abre mão de preparar pessoalmente. É nessa única e rápida saída que aproveita para conversar com pessoas e ter um retorno sobre a novela.
Thiago Santiago, que adaptou a novela A Escrava Isaura para a Record, também é adepto de uma severa organização. Sistemático, divide seu dia em quatro turnos: escreve de manhã, à tarde, à noite e de madrugada, até umas três horas da manhã. A única saída que se permite, quando muito, é no final da tarde para malhar e caminhar. "Acho fundamental reservar um tempinho para os exercícios físicos", admite. Manoel Carlos, por sua vez, não se obriga a uma rotina tão rígida. A única providência que toma ao escrever novelas é alugar um quarto em um apart-hotel próximo a seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, para evitar imprevistos domésticos. ?Não consigo trabalhar direito com filho chegando do colégio e empregada me interrompendo para pagar a lavanderia", lamenta.
Já Edilene Barbosa, que assinou "o remake" de Cabocla com sua irmã Edmara, não abre mão de participar do cotidiano de sua casa. "Não fico trancafiada no quarto. Atendo telefone e meus três filhos falam comigo quando querem. Fico ligada em tudo", conta. Quem também consegue escrever novelas sem abdicar do convívio doméstico é Marcos Lazzarini, que está escrevendo a versão brasileira de Os Ricos Também Choram para o SBT. "Se eu me trancar, meus filhos ficam com raiva de mim, não assistem à novela e perco audiência", diverte-se o autor, que escreve novelas escutando jazz, som que, segundo ele, traz serenidade.