Escola estimula reciclagem do lixo

d41.jpgO Brasil produz entre 240 e 300 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, dos quais 100 mil toneladas são de lixo domiciliar, segundo estimativa do IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O Ministério das Cidades relata que somente 20,3% dos municípios pesquisados têm aterros sanitários dentro dos padrões definidos pela legislação ambiental brasileira. Em 28,7% das cidades não há arrecadação específica para esse setor e os gastos são cobertos com verbas de outras fontes. Aproximadamente 5.507 prefeituras não estimulam a reciclagem nem têm condições técnicas para efetuá-la. (Instituto Socioambiental, 2004).

O lixo é um dos grandes problemas ambientais do mundo. Seu volume vem crescendo nas grandes cidades e nas áreas rurais. Os locais que servem de deposição de lixo esgotam-se facilmente. Os órgãos governamentais não estão conseguindo resolver os problemas relativos ao lixo. Como diz Labeyrie (2001), não são previstas formas de reciclagem com o mesmo afã da previsão do consumo.

A reciclagem é entendida como processo que envolve diversas atividades. Os materiais que se tornariam lixo são coletados, separados e processados para se tornarem matéria-prima na manufatura de outros bens feitos antes com matérias-primas virgens. Mas não deve ser concebida como solução ao destino do lixo, e sim como atividade econômica. (Grippi, 2001).

Se é uma atividade econômica, pode e deve ser reinventado, como fez Marco Antonio Barbosa Duarte (2005), um estudante de Biologia na Universidade de Brasília. Ele levou para a sala de aula um saco cheio de bitucas e aprendeu na aula de Materiais e Artes a transformar bituca de cigarro (ou ponta de cigarro) em papel reciclado. Sua professora Thérèse Hofmann relata que se uma bituca pesa 0,4 grama, ela resultará em cerca de 0,4 grama de papel reciclado.

Na Bahia há melhora de rendimento escolar através da transformação do lixo em objetos comercializáveis. A professora Sumara Santana Midley conta que o Projeto Amigos do Meio Ambiente ensinou crianças a acompanhar o plantio de árvores e desenvolvimento de mudas. No início do projeto havia dificuldade de aprendizagem. Depois disso surgiu a idéia de desenvolver oficinas de reciclagem que poderiam resolver o problema da destinação dos resíduos sólidos e a criação de oportunidade de renda para os pais das crianças, quase todos desempregados, pois a cultura do cacau na região estava em decadência. (O Estado de São Paulo, 2005).

Em São Paulo, troca-se lixo por novos equipamentos. Isto ocorre na Escola Estadual Jacy de Castro Aguiar, localizada na zona leste de São Paulo, escola que se preocupa com a preservação do meio ambiente através do ensino a partir da realidade dos alunos. Cada relação da escola com a comunidade e projetos, como o de reciclagem de lixo, é feita em parceria com uma empresa de reciclagem. Troca-se lixo por novos equipamentos. Entre outras atividades, estão: o jornal Espalha Fatos, que é feito por alunos voluntários, a pintura em tela, na qual os alunos fazem uma releitura de obras renomadas, e o Plantando na Escola, que objetiva a melhoria na qualidade de vida dos alunos e da comunidade. (TV Cultura, 2005).

No Rio de Janeiro uma gincana de reciclagem foi realizada através do projeto de iniciativa da Rede Escolar Pedro II, coordenado por Vilmar Berna e patrocinado pela Fundação O Boticário. Teve a participação de quase 10 mil alunos. Eles coletaram duas carretas de papel e uma de alumínio. Venderam o material e com uma parte do dinheiro premiaram as turmas vencedoras e organizaram excursões e festas de formatura, com a outra parte compraram vasilhames e implantaram a coleta seletiva na escola para que se tornasse permanente. (Jornal do Meio Ambiente, 2002).

No Colégio Estadual Ângela Sandri Teixeira, em Almirante Tamandaré-PR, os professores Fernando Farias Machado, de Física, e Amarilda Gulin, de Matemática, preocupados com a relação homem-meio ambiente, realizaram trabalho de conscientização sobre as condições da água do Rio Barigüi. A partir da nascente do rio (divisa de Rio Branco com Almirante Tamandaré), os alunos seguiram o seu percurso até o centro de Almirante Tamandaré. Durante o trajeto foi recolhido parte do lixo do rio e apresentado à escola. Em seguida foi entregue aos catadores. O trabalho foi filmado e fotografado. (O Estado do Paraná, 2005).

Ainda nesse colégio, os estudantes da 2.ª A, 2.ª B e 2.ª C, orientados pela professora de Química Marta Mara Favero, durante o mês de junho de 2005, realizaram uma pesquisa junto à comunidade de Tranqueira, cuja finalidade era relacionar lixo e meio ambiente. Os estudantes constataram o descaso com o meio ambiente. Fotografaram e fizeram visita à comunidade São João Batista, onde existe um barracão que recebe os lixos trazidos pelos catadores e que são negociados com o proprietário do barracão. O trabalho foi apresentado em painéis para observação da comunidade escolar.

O tema da reciclagem pode servir de estudo em todas as disciplinas, especialmente Geografia, História, Português, Matemática, Química, Física, Biologia e Artes. Por estar vinculado ao cotidiano, desperta interesse, principalmente porque do lixo pode surgir uma atividade econômica.

Indicações de leitura: Grippi, S. Lixo reciclagem e sua história: guia para as prefeituras brasileiras. Rio de Janeiro: Interciência, 2001.

Labeyrie, V. As conseqüências ecológicas das atividades tecno-industriais. In: Morin, E. (Coord.). Tradução: Flávia Nascimento. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é pesquisador, historiador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

queirozhistoria@terra.com.br

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