Esclarecimento sobre a peça O urso

Gostaria de esclarecer as observações feitas pela jornalista Beth Néspoli, dia 22 de março de 2005, na editoria de Variedades, sobre a peça de teatro O urso, de Anton Tchekhov. A jornalista comenta sobre o meu ?equívoco absoluto, que parece ter nascido do encontro entre a dificuldade de interpretação de um texto com a pretensão de fazer uma releitura sobre o que se não compreendeu?.

Primeiramente, não existiu nenhuma dificuldade de interpretação e não houve intenção de releitura, mas sim de uma adaptação mais exagerada das intenções do autor (que a meu ver a jornalista Beth Néspoli não sabe quais são…). Além disso, a jornalista se refere a uma ?jovem e bonita viúva reclusa que é retratada num primeiro momento como uma velha horrenda de chinelos, e depois como uma dançarina de rodeio, botas, saias curtíssimas, língua sinuosa de suposta sensualidade?, o que me leva a deduzir que a jornalista analisa questões de beleza e jovialidade como se viuvez tivesse necessariamente esses condimentos, e não o fundamento da personagem; que os chinelos a incomodaram, que as botas da dançarina (definida por ela) incomodaram e que a ?língua sinuosa? não inspirou sensualidade… e por aí a fora..! Acredito que a crítica feita pela jornalista vem do fato dela não ter entendido nada, e como conseqüência, revertido o seu equívoco absoluto (que parece ter nascido do encontro entre uma leitura superficial do conto de Tchekhov com a dificuldade de aceitar novas linguagens) sobre a peça (primeira parte, pois ela não viu a segunda parte), no meu ?suposto? equívoco!

Gostar ou não gostar de um espetáculo é uma ambigüidade real e as dificuldades de entender os personagens poderão ser grandes; ver, analisar e identificar tudo ao mesmo tempo, não é fácil, isso eu compreendo, mas o que poderá ser de mau gosto para determinadas pessoas, não é necessariamente um equívoco. Nem tudo é fácil na vida. Mas, com certeza, nada é impossível, até mesmo acreditar que o incompreensível para alguns, é bastante compreensível para outros.

João Paulo Godinho – diretor da peça

Nota de redação: Beth Néspoli é jornalista da Agência Estado.

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