Ernesto Paulelli morre aos 99 anos em São Paulo

Morreu na tarde desta quarta-feira, 26, aos 99 anos, um dos personagens mais famosos da música brasileira: Ernesto Paulelli. Ou melhor: Arnesto, aquele do samba de Adoniran Barbosa (1910- 1982). De acordo com a família, ele estava internado desde a última sexta-feira, 21, no Hospital Sancta Maggiore, após fraturar o fêmur. O enterro ocorrerá às 10h desta quinta-feira, 27, no Cemitério do Araçá.

Arnesto deixa dois filhos, dez netos e nove bisnetos. E uma fama de furão – como assim, convidou o Adoniran para um samba e deu o bolo? – que passou a vida a desmentir. “O Adoniran era um fanfarrão. Nunca o convidei para um samba em casa”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo em 2010.

Uma vez, aliás, Arnesto cobrou, mesmo sem estar com uma baita de uma “reiva”, satisfação do próprio músico pela “história mal contada”. A resposta veio pronta, como se preparada, na voz rouca característica dele. “Arnesto, meu amigo, se não tivesse mancada, não tinha samba. Segura essa pra mim!”.

Arnesto e Adoniran se conheceram em 1938, quando ambos trabalhavam nas rádios paulistanas. O primeiro bate-papo foi no estúdio da Record, então no 13.º andar da Rua Conselheiro Crispiniano, no centro de São Paulo. “Ele logo me chamou de Arnesto”, costumava frisar. “E disse que meu nome dava samba.” A homenagem veio quase 20 anos depois, em 1955. “Foi a maior emoção da minha vida”, dizia ele, que sempre gostava de brincar que a música foi sua “segunda certidão de nascimento”, pelo poder que teve em “mudar” seu nome.

Relíquia

Até o fim da vida, Arnesto guardou, com orgulho daqueles de brilhar os olhos, um presente valioso que ganhou de Adoniran: a partitura número 001 – como ele mesmo reforçava, com os dois zeros antes do um – do Samba do Arnesto. Com dedicatória do amigo compositor: “Ao acadêmico Ernesto Paulella (sic), a quem dediquei esta composição quando do seu lançamento, em maio de 1955. Homenagem do autor, Adoniran.” Lúcido mesmo com a idade avançada, ele costumava cantarolar o samba que o consagrou com frequência, sempre que lhe pediam.

Autodidata por convicção, Arnesto nunca parou de estudar e era dono de rebuscado vocabulário – e um conversar repleto de inteligentes trocadilhos. Depois de dedicar-se ao comércio na maior parte da vida adulta, aos 60 anos realizou o sonho de ser diplomado em Direito. Advogou até os 90, quando, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), decidiu “pegar mais leve” e se aposentar.

E a música? Se para o amigo Adoniran, era profissão, para Arnesto o violão jamais passou de hobby. “Sempre toquei ‘de ouvido’. Só agora, depois dos 90 anos, é que estou estudando teoria musical”, disse ao Estado na entrevista concedida em 2010.

Sua última aparição em evento público foi em evento organizado pela Secretaria de Estado da Cultura em homenagem ao centenário de nascimento de Adoniran Barbosa, em 2010, no Auditório Ibirapuera. Ah, em tempo: Arnesto nunca morou no Brás – passou a vida na Mooca.

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