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Entre uma novela e outra, Luís Melo cria complexo cultural Campo das Artes

Luís Melo é o tipo de ator-sonho de todo diretor. Nos anos 1980, em Curitiba, foi dirigido por Emílio Di Biasi e Ademar Guerra. Quando passou por São Paulo se tornou um dos principais – se não o maior ator – do Centro de Pesquisa Teatral, um sucesso que nem o diretor Antunes Filho conseguiu estancar, pois logo o curitibano transbordou dos palcos para a televisão.

A projeção veio com a novela “Cara e Coroa” (1995) – na época o ator recebeu o Prêmio APCA por interpretar o professor Rubinho, eterno apaixonado por Fernanda (Christiane Torloni). Esse patamar apresentou um novo caminho, e sem jamais arredar o pé do teatro e da criação artística, parte dos planos do ator se concretizou com o Campo das Artes, um complexo cultural para artistas e seus públicos localizado em São Luiz do Purunã, a 40 km de Curitiba.

O terreno de 164 mil m², que lembra os pampas do Rio Grande do Sul, integra um conjunto arquitetônico com 12 contêineres que abrigam alojamentos, lavanderia, refeitório, oficinas de marcenaria, serralheria e figurino, depósito, além de salas multiuso, café e lanchonete, horta e estufa. “Tudo isso é um projeto de vida”, conta. “Depois de encontrar o terreno, fui planejando e executando aos poucos. Fazia uma novela, construía uma parte, depois outra novela e assim por diante.”

Isso não quer dizer que Melo apostou numa grande empreitada às cegas. Entre 2001 e 2009, o ator viveu uma imersão multiartística de estudos em parceria com a diretora Nena Inoue e com o cenógrafo Fernando Marés no Ateliê de Criação Teatral, em Curitiba. Foi lá, numa antiga estufa de bananas, que espetáculos como Cãocoisa e a Coisa Homem nasceram – este com direção de Aderbal Freire-Filho e que mais tarde desembarcou no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, palco que consagrou Melo. “Também realizamos estudos das obras de Chekhov com o diretor Marcio Abreu e havia um interesse de diferentes profissionais como fotógrafos, artistas plásticos, jornalistas e filósofos. Foi uma forma de recuperar um estudo que superasse o objetivo de criar um espetáculo teatral.”

Esse olhar transversal para as artes se escancarou em importantes parcerias com outras companhias e diretores como em “Terra de Ninguém” (2014), dirigido por Roberto Alvim, e o silêncio cheio de imagens do solo sem palavras de “Ausência” (2012), espetáculo com o grupo franco-brasileiro Cia Dos à Deux. Esta última peça, o ator afirma que, em breve, deseja apresentá-la no Campo das Artes.

Por outro lado, em seu último trabalho na televisão, a novela “Sol Nascente”, o ator foi alvo de críticas por interpretar um japonês, sendo que Melo é neto de indígenas e italianos. Na ocasião, ele justificou que se tratava de uma obra ficcional e lembrou que a própria cultura oriental também teria cultivado proibições, como no teatro, que não permitia mulheres em cena. Mesmo assim, não há pausas para Melo. Em julho, o ator estreia na série “Sob Pressão”, fruto do longa de Andrucha Waddington sobre a rotina de médicos em um hospital.

Diante de tantos projetos, e talvez por conta deles, ele já adianta que não deseja dirigir o Campo das Artes – “eu sou um artista” – e quer implementar um modelo mais próximo da economia criativa, algo para ser compreendido e incentivado no Brasil. “O Paraná e, principalmente, Curitiba têm grande poder aquisitivo. As pessoas consomem o que vem de fora, porque os projetos nasceram com esse objetivo. Um espetáculo está interligado a outras áreas, não necessariamente artísticas, mas que foram suporte na criação. Isso gera trabalho para todos os profissionais.”

Aplicado ao Campo das Artes, o projeto vai desde os alimentos frescos que o ator recebe em sua casa, vindos de produtores locais, até a residência artística. “Quero criar uma rede que sustente e seja sustentada. Buscar o significado de cultura.” Por meio de editais, os artistas poderão ocupar o complexo desde a gestação dos projetos até o desenvolvimento e finalização, sem que haja tanto compromisso com terminar uma obra. “Existem leis específicas e intercâmbios com instituições. Em troca, oferecemos a infraestrutura. O desejo é que não tenha custo para os artistas.” Outra vontade é que o Campo esteja no mapa e na mira de festivais pelo Brasil, como local de exposição de trabalhos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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