É bem provável que o leitor já tenha visto algum filme cujo mote é o encontro de amigos que, após anos sem se verem, decidem se reunir para relembrar e celebrar o passado. Um exemplo recente (não tão recente assim, mas enfim) é o longa American Reunion, que reuniu (sério?) o elenco original de American Pie, mostrando o que eles se tornaram ao longo dos anos. Utilizando este tema, mas com outro viés, o diretor Pedro Morelli e o roteirista Paulo Morelli, apresentam o seu mais novo trabalho. O filme “Entre Nós”.
O que chama logo de cara é que o filme, de certo modo, nada contra a maré com o que vem sendo produzido no Brasil. Isto é, não espere em “Entre Nós” aquelas comédias (geralmente cópias umas das outras) que contam com a participação do Leandro Hassum. Pelo contrário. A produção aposta no drama, que envolve um grupo de amigos que se reúne após dez anos para abrir cartas que deixaram para si e para lidar com a morte trágica de um amigo.
Utilizando basicamente o cenário de uma chácara, o diretor aposta bastante na fotografia exuberante do espaço e também em tons escuros, como forma de mostrar que a tensão irá pontuar a reunião dos amigos. Observem, por exemplo, como o personagem Felipe, interpretado por Caio Blat, está sempre com roupas escuras e um visual carregado.
Falando em Blat, ele e o ator Júlio Andrade são os grandes destaques em cena. O primeiro por compor um personagem que, embora bem sucedido, carrega um segredo que o corrói por dentro. De postura arqueada, com uma voz quase sussurrante, o protagonista demonstra todo o peso em fazer parte deste encontro e deixa claro que não está muito à vontade no meio dos amigos. Andrade, por sua vez, chama a atenção mesmo com um personagem secundário. Ele mostra o seu vigor em discussões, sempre colocando seus colegas contra a parede, mas, ainda assim, revela que por de trás de toda aquela postura rígida e seca, há um ser humano ali.
Porém, se há esses dois fatores que contribuem bastante para o filme, o mesmo não se pode dizer de Paulo Vilhena e Carolina Dieckmann. Chega a ser constrangedor a forma como Vilhena conduz os diálogos, demonstrando todo ator que ele não é. Dieckmann começa e termina o filme com uma expressão de quem está com uma gastrite das bravas. Não sei se é culpa do roteiro, ou dos atores ,ou ainda de ambos. O fato é que eles são peças mal desenvolvidas. Maria Ribeiro e Martha Nowill também carecem de personagens mais profundas, ainda que as duas consigam extrair algo de seus papéis.
Outro “pecado” é que a trama fica previsível. Não é difícil entender o porquê da angústia do protagonista. Aliás, os problemas dos personagens sempre soam de forma aborrecida para o espectador. É difícil, por exemplo, criar uma empatia com eles. Tanto que, após a exibição, não será surpresa você esquecer o nome dos personagens.
Embora tenha grandes méritos na parte técnica e por evitar o lugar-comum que norteia o cinema nacional, “Entre Nós” acaba decepcionando por não conseguir transformar em algo mais interessante, deixando no ar a sensação de “poderia ser melhor”.
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