Cena de Entre: linguagem corporal
e sintonia.

Imagine uma peça de teatro sem texto, sem deixas nem marcações, em que o iluminador atua da maneira que lhe apetece, o sonoplasta segue a “intuição” para fazer o seu trabalho e a diretora interfere no decorrer da ação, enquanto o casal de atores age e reage sem saber exatamente o que cada um vai fazer em cena. Em linhas gerais, a partir de uma nebulosa interpretação das palavras da diretora Nara Heemann, assim é o espetáculo Entre, que estréia hoje às 20h30 no Teatro HSBC, onde fica até o dia 16 de fevereiro.

“Procuramos trabalhar não com um texto dramático convencional ou uma narrativa, mas com estados – do ambiente, do corpo e do espírito”, tenta explicar a diretora. Para isso são utilizados momentos de improvisação, expressão corporal e elementos da dança e da arte performática. “Oferecemos um espaço para a reflexão, no lugar de comunicar tudo de uma vez. Isso acaba sufocando”.

Mas ela avisa: “Não é uma estrutura convencional, mas também não é “qualquer coisa? – improvisação pura e simples, chegarmos lá no palco e ver no que vai dar. Não se trata de criação aleatória”. E arrisca outra definição: “Estaríamos treinando os corpos para que eles se disponham ao ato criativo, de forma espontânea, sem as amarras do texto, das marcações e da narrativa linear convencional”. Ela também sublinha que existe uma estrutura temática: “Nosso grande tema é a precariedade do homem e a sua dificuldade de comunicação. E tentamos dar as respostas com os corpos”.

Assim, atores, diretora e equipe técnica têm liberdade criativa – desde que em sintonia com a proposta -, e ao mesmo tempo ficam suscetíveis à interferência externa, seja do ambiente, do “clima” ou da platéia. O que resultará numa peça diferente a cada dia.

Na teoria, uma experiência sensorial intrigante. Só falta combinar com o público. E os artistas, estariam preparados para reações adversas? “Estamos correndo riscos, e procuramos não predeterminar uma maneira correta de interpretar o trabalho. Cada par de olhos vai ter a sua leitura, o que vai gerar uma inquietação constante. Convidamos a platéia a se lançar em outra forma de perceber o espetáculo, sem a exigência de “compreendê-lo”. E isso é teatro? Nara retruca: “É teatro, com fortes conceitos da arte performática e da dança”.

Mas enfim, o que eu e você vamos encontrar no Teatro HSBC? “Um convite à vivência, e ao aguçamento da nossa capacidade de percepção. Uma tentativa de comunicação em tempo real, com desafios para atores e platéia, que vão entrar num terreno desconhecido”. Boa viagem.

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Até o dia 16 de fevereiro no Teatro HSBC/Palácio Avenida, de quinta a domingo, sempre às 20h30. Ingressos a 10 e 5 reais (meia).

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