Morreu nessa quarta-feira, 11, aos 80 anos, o maestro espanhol Rafael Frühbeck de Burgos. Segundo sua família, ele estava internado em uma clínica de Pamplona por causa de um câncer. Atendendo a um pedido feito pelo maestro, seu velório e enterro, que serão realizados nesta quinta-feira, 12, não serão abertos ao público, apenas à família.
Na semana passada, o maestro havia emitido um comunicado no qual anunciava sua doença e informava sua decisão de se retirar permanentemente dos palcos, renunciado ao posto de diretor da Sinfônica da Dinamarca e cancelando os concertos que faria com a Sinfônica de Boston no Festival de Tanglewood. Sua última aparição pública foi em março, quando passou mal durante um concerto com a Sinfônica Nacional de Washington.
Frühbeck de Burgos nasceu em 1933 e, ao longo do século 20, desenvolveu uma carreira que fez dele o maior maestro da história da Espanha. Ele foi diretor artístico de instituições importantes, como a Deutsche Oper, de Berlim, a Sinfônica Nacional de Espanha e a Filarmônica de Dresden, da qual era regente emérito. Sua trajetória artística estava bastante associada à música do século.
Ele gravou, por exemplo, a integral sinfônica do compositor Manuel De Falla, além de diversos discos dedicados a autores como Stravinski e Debussy. Tinha especial relação também com os repertórios clássico e romântico.
Em uma passagem por São Paulo, em 2011, quando regeu a Osesp, ele falou ao jornal O Estado de S.Paulo também da paixão pelas sinfonias de Mahler. Ele rechaçava, no entanto, comparações segundo as quais ele seria, pelo modo como dominou com suas sinfonias a temporada das principais orquestras mundo afora, uma espécie de “novo Beethoven”. “Eu adoro Mahler e fui o primeiro a tocar todas as suas obras na Espanha. É claro que ele teve uma evolução enorme desde a sua primeira sinfonia. Mas não consigo compará-lo a Beethoven. No avião, vindo para cá, li um artigo sobre os regentes mais ocupados do mundo. O primeiro é o Valery Gergiev e eu, aparentemente, sou o sétimo. Mas, enfim, o que importa é que eles também elencavam os autores mais tocados. Beethoven está em primeiro lugar, com mais de 50% a mais que o segundo colocado, Mozart. Isso quer dizer alguma coisa. De minha parte, se eu precisasse guardar algumas obras para todo o sempre, seriam a Paixão de São Mateus de Bach, o Réquiem de Brahms e a Missa Solene de Beethoven.”
Frühbeck de Burgos manteve, nos últimos anos, relação estreia com a Sinfônica do Estado de São Paulo, que regeu em diversas ocasiões. Ele, no entanto, também visitou o Brasil em outras oportunidades, à frente de orquestras estrangeiras, como a Sinfônica Nacional da Espanha e a Sinfônica de Viena. Em 2010, atuou na Sala São Paulo à frente da Filarmônica de Dresden.
Híbrido Ideal
Em 2001, definiu-se, em uma entrevista, como uma espécie de “híbrido ideal”. “Sou filho de alemães e, logo, trago em mim todo o lado filosófico e lógico germânicos, mas, ao mesmo tempo, adoro a Espanha e sua intensidade, a ponto de acrescentar ao meu nome de batismo o da minha cidade natal, Burgos, para deixar claro a dualidade cultural em que fui formado”, explicou. “Para tocar a música de meu país, é preciso saber imprimir o sabor nacional, dar um maior colorido, sem, no entanto, deixar tudo descambar para o exotismo, subproduto dos excessos dessas virtudes, um erro muito comum em intérpretes não hispânicos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.