“Pedi muito para não acontecer nada. Se tivesse sido uma semana depois, eu não estaria aqui”, disse a estilista Lenny Niemeyer, após seu desfile no terceiro dia da São Paulo Fashion Week, sobre um aneurisma que sofreu há algumas semanas. “Foi sério, fiquei uma semana no hospital. Mas sou movida a trabalho. A criação é o que gosto de fazer, então tenho que ir em frente. Foi um desafio, e estou feliz.”

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Nome forte da moda praia nacional, Lenny apresentou uma coleção impecável inspirada nas artistas Hilma af Klint, da Suécia, e Emma Kunz, da Suíça, ambas pioneiras do abstracionismo geométrico. “Elas eram completamente místicas, trabalhavam com triângulos, esferas, a terra, a convergência… Queriam mostrar um universo maior, além da matéria”, disse Lenny. Na passarela, a dimensão espiritual foi transposta para peças cheias de camadas, tridimensionalidade e cor.

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“Minha coleção é uma homenagem à força feminina”, concluiu.

Temas sociais, aliás, deram o tom do dia. Brasiliense que mora em Sydney desde 2002, Vanessa Moe deu visibilidade em seu desfile aos povos aborígines da Austrália, hoje representados por uma minoria que luta para preservar sua cultura imemorial. A estilista apresentou apenas 12 looks, usados por modelos nativas. Apesar da importância do tema, foi uma apresentação fraca e sem ritmo, aquém da média da temporada.

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Quem também escolheu trabalhar com uma comunidade indígena foi Giuliana Romanno, que apresentou um trabalho manual de tressê em parceria com a Casa Teçume, marca social de artesãs da floresta amazônica. Com técnicas que se aprimoram e sofisticam a cada coleção, a estilista apresentou um desfile enxuto no número de looks e na cartela de cores, mas com sofisticados recortes e assimetrias em peças de alfaiataria. A camisaria foi trabalhada de forma minimalista, mas sexy – tarefa que não é fácil, mas que exerce com maestria.

Patricia Bonaldi provou mais uma vez que sabe muito bem como cativar uma audiência. Prova disso foi a primeira fileira de seu desfile, repleta de influencers vestindo seus looks mais instagramáveis. A estilista apostou em bordados lúdicos e surreais, e quebrou a feminilidade com peças esportivas no maior clima de street style. “Acabamos de lançar nosso e-commerce nos EUA, e tenho planos de expansão por lá. É hora de levar o que Brasil tem de bom para fora”, disse ela.

Na era do compartilhamento, Vitorino Campos teve uma brilhante ideia: tornou disponível no site de sua marca o molde de boa parte dos 22 looks desfilados. “Eu me entusiasmei com a ideia de compartilhar minhas criações para que possam ser reproduzidas por quem quiser. A ideia é que a roupa funcione como uma tela em branco na qual cada um faça sua interpretação.” A coleção, toda em branco, é inspirada no disco Araçá Azul, de Caetano Veloso.

Quando Emicida entrou cantando o rap Avuá com tanta energia e magnetismo, para uma plateia majoritariamente negra, a expressão ‘moda inclusiva’ finalmente ganhou sentido. O som foi feito coletivamente, ao lado de Fióti, seu irmão e parceiro na marca LAB, e de outros rappers famosos, como Rael e Drika Barbosa. “Sempre conduzimos o processo criativo de maneira muito conjunta, todo mundo sempre deu pitaco. O que estamos fazendo é trazer essa raiz do coletivo”, disse Emicida. “Partimos de onde saímos, que é das calçadas, e tocamos o coração das pessoas, inspirando-as a alçar voos maiores”.

OSESP

Sala São Paulo. Praça Júlio Prestes, 16, telefone

3223-3966.

4ª e 6ª, às 21h; dom., às 16h. R$ 46 a

R$ 213.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.