Todos já sabem o final, mas mesmo assim nunca deixam de se emocionar. A encenação da Paixão de Cristo é uma tradição em todo o Brasil, das mais imponentes catedrais até as mais simples capelas, a trajetória do filho de Deus pelo calvário é sempre representada, seja por atores amadores ou por consagrados atores profissionais. Em Curitiba, a encenação mais aguardada é a feita pelo Grupo Lanteri, que desde 1978 representa o auto Vida, Paixão e Morte de Jesus Cristo.
Na apresentação de ontem, novamente uma grande multidão formada por cristãos lotou a Pedreira Paulo Leminski, local onde acontece a encenação desde 1991.
Com duas horas aproximadamente de duração, o auto apresentou as principais passagens da vida pública de Jesus Cristo, como o batizado, o sermão da montanha, a ressurreição de Lázaro, o apedrejamento da mulher adúltera, a Santa Ceia-quando Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia-, até o momento mais dramático e emocionante, a crucificação do Cristo.
O diretor do grupo, Aparecido Massi, representou Jesus Cristo. Ele afirmou que o encenação de ontem pode ter sido uma da últimas oportunidades para os curitibanos admirarem a montagem desta forma. Pois no ano que vem vão acontecer muitas alterações, inclusive no elenco. “Estamos estudando a possibilidade da encenação virar um produto turístico da cidade”, relatou Massi.
Entre atores, figurantes e produção, oitocentas pessoas participaram do espetáculo.
Na Paixão de Cristo, a reflexão sobre a paz
Milhares de cristãos procuraram as igrejas na manhã de ontem em Curitiba. A Sexta-feira Santa, tradicionalmente reservada a reflexão e orações, ganhou significado ainda maior este ano com o conflito no Oriente Médio e a retomada de divergências políticas, ideológicas e religiosas.
“É hora de todos pararmos e pensarmos. O ser humano age instintivamente sem se dar conta de que no fundo todos somos irmãos”, explicou o eletricista Antônio Ferreira Neto. Para o advogado Luís Gastão Koester, os seguidores de todas as religiões deveriam tentar compreender o real significado de suas escrituras. “A palavra de Deus é a mesma para todos. Paz e harmonia entre os povos não se faz assinando tratados de paz na ONU, se faz com o verdadeiro sentido da religião.”
A enfermeira Roseli Lage Leite também passou a manhã orando na Catedral. Ela disse que, apesar de poder estar na mão de alguns líderes que muitas vezes agem errado, os povos estão procurando mais a palavra de Deus. “Acho que estamos nos voltando para a fé. Os povos estão relembrando a importância da religião.” A opinião é parecida com a da aposentada Maria Aparecida. “Vou rezar para todo mundo. Pela paz e pela justiça de todos os povos.”
Durante a tarde de ontem, diversas paróquias da cidade promoveram procissões e cortejos lembrando a paixão de Cristo. Uma procissão da Igreja São Vicente de Paula, no bairro Alto São Francisco, seguiu até a Catedral. Os participantes carregaram a imagem de Bom Jesus dos Passos e de Nossa Senhora das Dores. A procissão representa o dia em que Jesus foi condenado e morreu na cruz.
Celebrações
Até amanhã, domingo de Páscoa, uma série de celebrações religiosas estarão ocorrendo em quase todo o mundo. No Brasil, diversas igrejas irão realizar missas especiais. Em Curitiba, as festividades se concentram principalmente na Catedral Basílica e tiveram início na Quinta-feira Santa.
Durante a manhã de quinta, cerca de 250 padres, o arcebispo metropolitano de Curitiba, dom Pedro Fedalto, e os bispos dom Ladislau Biernaski e dom Sérgio Airton Barchi, de Ponta Grossa, se reuniram para renovar suas promessas sacerdotais e participar da celebração dos santos óleos. “A benção dos óleos significa a preparação dos óleos para serem administrados, durante todo o ano, nos sacramentos do Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos”, explica o vigário paroquial da Catedral, monsenhor Carlino de Alencar. À noite, centenas de fiéis participaram da missa de Lava-Pés, em memória a atitude de Jesus de lavar os pés de seus apóstolos durante a última ceia.
Hoje, sábado de Aleluia, às 15h, haverá a celebração da Paixão e Morte de Jesus, com leituras, orações, benção do fogo e presença do Sírio Pascal. A missa termina com a comunhão dos fiéis.