Rodado entre 2008 e 2009, e finalizado em 2014, o filme Encantados, de Tizuka Yamasaki, entra agora em uma etapa pela qual a cineasta batalhava há tempos: vai chegar ao público. A estreia ocorre no próximo dia 7 apenas em salas de cinema do Pará. O motivo? O Estado é cenário para o novo longa de Tizuka. E, em março, está previsto o lançamento nacional. Coprodução entre Globo Filmes e Scena Filmes, Encantados já rodou festivais no Brasil e no exterior – foi premiado na 38ª Mostra de São Paulo, na categoria Festival da Juventude, em 2014, e abriu o Brazilian Film Festival of Miami, em 2016.
No dia 18 de novembro, houve a pré-estreia especial do filme, ao ar livre, na Praça Independência, em Soure, na Ilha do Marajó, com plateia lotada. Pouco a pouco, o público se ajeitava nas cadeiras de plástico distribuídas em fileiras na frente do telão montado ali na tarde daquele mesmo dia. Quem não conseguiu lugar na plateia trazia a própria cadeira e se posicionava nos espaços vagos. Adultos, adolescentes, crianças. Todos estavam ali para assistir a uma história de sua terra, de uma personagem local, a pajé Zeneida Lima, hoje com 83 anos, educadora, escritora e fundadora da Instituição Caruanas do Marajó Cultura e Ecologia.
Na plateia, estavam ainda Tizuka e Zeneida, além de Marco Aurélio Marcondes, diretor-presidente da Riofilme, Nilcemar Nogueira, secretária municipal de Cultura do Rio, e políticos locais. Do elenco, só o ator Ângelo Antônio, que interpreta o pajé Mestre Mundico no filme – figura importante na vida de Zeneida – conseguiu ir a Soure. Ali, Ângelo assistiu ao filme pela primeira vez. Depois da projeção, ele disse à reportagem que estava impressionado. “O filme não cai, tem uma levada o tempo inteiro. Tizuka consegue manter uma tensão o tempo inteiro”, comentou, entusiasmado, o ator (leia entrevista com ele ao lado). Zeneida estava emocionada: “Ali senti como se fosse um grito da natureza, por tudo aquilo que eu lutei a vida inteira para preservar a memória caruana”.
Dira Paes e Thiago Martins, que também estão no longa, mandaram recado por vídeo. A agenda dos dois estava atribulada – Dira estava envolvida com um novo filme e Thiago, com as gravações da novela Pega Pega. Paraense, Dira foi representada na sessão por sua mãe, D. Florzinha, como é carinhosamente chamada. José Mayer, que faz o advogado Angelino na história, também não foi ao evento. O ator foi acusado de assédio e, por isso, sua ausência era esperada. O fato de ele estar no elenco pode prejudicar o filme? “Não, acho que o ator Zé Mayer está acima disso tudo”, responde Tizuka, que o dirigiu também na minissérie da Globo, O Pagador de Promessas (1988). “Não tenho nada a ver com a vida pessoal dele, tenho o maior respeito com o trabalho de ator dele.”
Percalços
Inspirado no livro de Zeneida, O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó, o filme conta a história de Zeneida (Carolina Oliveira), então menina, que sai de Belém, com a mãe Zezé (Letícia Sabatella), os sete irmãos e a empregada Cotinha (Dira), e vai para Ilha do Marajó, por determinação de Angelino (Mayer), pai ilegítimo dos oito filhos que teve com Zezé.
É na ilha que Zeneida passa por seu rito de passagem: seu dom de pajé, que era sufocado pela família, se aflora quando ela entra em contato direto com a natureza. É ali também que descobre o amor (proibido) por Antônio (Thiago), um encantado, como são chamados os seres da natureza (daí o título do longa). O filme traz ainda no elenco Anderson Müller, como o capataz Fortunato, além da participação especial de Laura Cardoso e Cássia Kis, como índias ancestrais.
Foi um longo caminho para Encantados até o lançamento de agora. Enfrentou percalços como falta de dinheiro e problemas com distribuição. “Acho que tem vários motivos para o atraso do filme, mas a gente está entrando com ele no melhor momento. O Pará está bombando, a cultura paraense está bombando. Ficou uma certa conjuntura a favor”, comemora Tizuka, referindo-se ao sucesso da novela A Força do Querer, que tinha personagens – e locações – paraenses.
“Quando apresentei o projeto da primeira vez e falava da pajé Zeneida, não consegui investimento. Quando eu coloquei a pajé lá no final do currículo dela, apareceu o primeiro investimento. O Brasil foi descoberto, os portugueses vieram aqui, vieram vários invasores, sempre se sufocou a cultura local e continua assim até hoje. Essa experiência, a gente teve no processo de realização do Encantados.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.