Antigas idéias, novos negócios. Seja por carência de bons argumentos originais, seja por medo de apostar no novo, já faz algum tempo que a busca por antigas fórmulas tem sido uma tendência na tevê. Os exemplos vão além do já tradicional remake de novelas. Atingem também o resgate de velhas séries, como Carga Pesada e A Grande Família e chegam a antigos humorísticos, como Os Trapalhões e Família Trappo. Os profissionais que, de alguma forma, estão envolvidos com esses programas não vêem nessa prática um problema, desde que se mantenha a qualidade. "O que é bom é eterno. Não é uma questão de resgate, mas de trazer para o espectador o que é eterno. É como um livro ou um pensamento", defende Cininha de Paula, diretora do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.

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Além do Sítio, outros programas de sucesso do passado foram adaptados para a tevê de hoje. Da mesma maneira que os recursos técnicos permitem muito mais aos criadores, a linguagem televisiva hoje é diferente da usada décadas atrás. Dessa forma, o texto, por exemplo, precisa se adaptar tanto em relação à velocidade de contar a história como no conteúdo, para se adaptar aos novos costumes. Para Cláudio Paiva, redator de A Grande Família, apesar da qualidade do texto original, foi preciso reinventar o programa. "Foi mais do que atualizar. Era outra época e outro ritmo. As mulheres tinham um comportamento diferente e o Agostinho, que era meio vilão, hoje é mais neurótico. São ingredientes contemporâneos", ilustra.

Na esteira do sucesso de fórmulas já consagradas, a série Carga Pesada pegou a mesma estrada de outros programas, mas adicionou um elemento narrativo diferente. Em vez de partir da idéia original e recriar a série, o programa trabalha com a mesma dupla de atores da versão original, em uma espécie de corte que mostra a continuação natural dos personagens. Para Antônio Fagundes, que interpreta o caminhoneiro Pedro, mesmo que partam de uma idéia antiga, as atuais temporadas trazem novidades. "Tem um monte de coisas novas, uma abordagem diferente. A relação do Pedro e do Bino, por exemplo, está fortalecida depois de tantos anos", reitera.

A busca por fórmulas bem-sucedidas do passado não fica restrita à reedição de programas inteiros. Muitas vezes, programas que, em tese, são frutos de novos projetos se valem de aspectos que funcionaram em antepassados nem tão distantes. É o caso da coincidente gama de personagens do dominical A Turma do Didi, que, além do velho trapalhão, conta com um negro, um baixinho espevitado e um quarto personagem, que é meio galã, meio escada para as trapalhadas. "O formato não foi proposital. Quando me dei conta, já estava trabalhando com pessoas parecidas. Imagine, como é que vou substituir o Zacarias, o Mussum e o Dedé? Eles são insubstituíveis", despista Renato Aragão.

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Enquanto a busca por bons índices de audiência justifica a corrida para o passado por parte das emissoras, para diretores e roteiristas vale também a certeza de ter nas mãos um produto com potencial artístico. Essa combinação fez a Globo cogitar a volta da série Shazan & Xerife, que acabou temporariamente adiada. Para Edson Spinello, que iria dirigir a série, é bom começar o jogo como favorito. "Foi um formato vitorioso. E Shazan & Xerife tem tudo para fazer sucesso hoje. O que é bom não fica datado", sentencia.