Vida de negro é difícil, mas costuma dar boa audiência. Prova disso é que, recentemente, Record e SBT fizeram sucesso ao apostarem em tramas abolicionistas. A primeira produziu uma nova versão para um clássico do gênero, A Escrava Isaura, assinada por Tiago Santiago a partir do romance de Bernardo Guimarães. Já a segunda optou pela reprise de Xica da Silva, novela produzida pela extinta Manchete em 1996. As duas surpreenderam no Ibope, com médias acima dos 15 pontos. Coincidência ou não, a Globo anuncia para o dia 26 a estréia de Força de Um Desejo, de Gilberto Braga, no Vale a Pena Ver de Novo. E não é só: em 2006, a emissora estréia o remake de Sinhá Moça, de Benedito Ruy Barbosa, outra trama na linha casa-grande e senzala.
A escolha de Força de Um Desejo para substituir Laços de Família não é tão casual quanto parece. Mesmo porque, da primeira vez que foi ao ar, em 1999, não chegou a ser um sucesso de audiência. Pelo contrário. A média de 25 pontos ficou aquém da desejada. O autor, Gilberto Braga, porém, é o mesmo da versão original de Escrava Isaura, de 1976, que ainda ocupa o segundo lugar no ranking das mais vendidas para o exterior: 79 países; só perde para Terra Nostra, de Benedito, com 84. Para Gilberto, novelas abolicionistas sempre tiveram um público cativo na tevê e cita como exemplo Essas Mulheres, de Marcílio Moraes, que registra atualmente 8 pontos na Record. "No fundo, o público se interessa mesmo por boas histórias, independentemente do gênero a que pertençam", acredita.
A exemplo de Gilberto, Walcyr Carrasco é outro entusiasta do gênero. Não só das produções de época, mas das tramas abolicionistas. Duas de suas novelas foram ambientadas no período da escravidão: Xica da Silva, que escreveu como Adamo Angel, e A Padroeira. "No fundo, todos gostam de voltar no tempo e conhecer épocas passadas. Além disso, é bom lembrar que boa parte da História do Brasil aconteceu durante a escravidão. Ou seja, é um período extremamente rico para a teledramaturgia", enfatiza. Atualmente, Xica alcança média de 15 pontos, sete a mais que a registrada por Os Ricos Também Choram. "Xica trabalha com um padrão de liberdade maior. A novela trouxe um público diferente para o SBT", festeja David Grimberg, diretor de teledramaturgia da emissora.
Na Record, Tiago Santiago não acredita em coincidências. Responsável pela nova versão de A Escrava Isaura, ele garante que o sucesso da novela da Record, que chegou a alcançar inesperados 20 pontos no Ibope, motivou a concorrência a investir no gênero. "Não é por acaso que a Globo resolveu fazer um ‘remake’ de Sinhá Moça. Da primeira vez, ela já tinha sido feita na esteira do sucesso de Escrava Isaura. Pelo jeito, a história tornou a se repetir", ironiza ele. De fato, mesmo antes da estréia de Sinhá Moça, em 1986, 50 países já haviam demonstrado interesse em adquirir a novela, atraídos tanto pelo tema abolicionista quanto pela atriz Lucélia Santos que, ao lado de Rubens de Falco, fizera Escrava Isaura.