Logo no começo de Por Um Punhado de Dólares – Os Novos Emigrados, um letreiro informa que, todo ano, em todo o mundo, 200 milhões de pessoas saem de seus países em busca de melhores oportunidades longe de casa. Essas pessoas movimentaram, em 2014, US$ 400 bilhões. Numa entrevista por telefone, do Rio, o diretor Leonardo Dourado retifica o número – em 2016, segundo dados do Banco Mundial, foram US$ 600 bilhões.
Por Um Punhado de Dólares – nada a ver a com spaghetti western de Sergio com o grande Clint, nos anos 1960 – integrou a seleção do É Tudo Verdade em 2014. Estreia agora graças a um edital da Spcine. É um ótimo filme. Talvez, considerando-se a amplitude da geografia humana abordada por Dourado, a amostragem seja reduzida. São basicamente três casos, mas envolvendo os países de onde os imigrantes mais enviam dinheiro para suas famílias (EUA, Alemanha) e o Brasil, claro, por se tratar de um filme brasileiro.
EUA e México, Alemanha e Zâmbia, Brasil e Japão. A família de mexicanos dividiu-se – parte dela preferiu permanecer no México. O zambiano também vive dividido – constituiu família na Alemanha, mas ganha mais dinheiro em Munique, o que o obriga a viver longe da mulher e dos filhos. O problema é que 40 pessoas dependem dele em Zâmbia, o que o força continuamente ao sacrifício. Os garotos brasileiros no Japão queixam-se de diferenças culturais inconciliáveis, mas a família também depende deles. Chegam a preparar a ida de mais um irmão para se juntar a eles.
Jornalista, produtor de TV – ex-Fantástico -, Leonardo Dourado abandonou a redação, mas não o hábito de ler nas entrelinhas dos grandes jornais. Foi em uma nota, sobre a movimentação de dinheiro pelos novos imigrados, que ele descobriu o material para seu longa. O filme demorou para ser feito – contingências de produção. Conheceu todo tipo de percalços. Um possível personagem foi assassinado. Uma família desistiu porque o filme exporia que sua situação lá fora não é tão boa quanto tenta fazer crer aos que ficaram no Brasil. São histórias humanas, algumas dolorosas. Expõem fraturas, tensões. Por Um Punhado de Dólares merece atenção.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.