Por estranho que possa parecer, a atual crise política abriu mais espaço para a mulher mostrar sua inteligência na tevê. No começo de julho, em meio ao interminável escândalo do mensalão, o Programa do Jô, da Globo, passou a dedicar as noites de quarta-feira a um debate sobre os acontecimentos mais recentes da política nacional. E, para integrar a mesa de discussão sobre um universo predominantemente masculino, Jô Soares teve a idéia de convidar mulheres. Foram convocadas cientistas políticas e jornalistas. Cristiana Lobo, Ana Maria Tahan, Sônia Racy e Lucia Hippolito são as que mais participam do programa, que conta sempre com quatro debatedoras, denominadas "meninas do Jô".

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Jô Soares mostrou seu "feeling" ao convidar mulheres para falar de política. A repercussão dos debates, verificada através de e-mails, comentários da imprensa e do próprio público, é grande. Por conta das características tipicamente femininas, como a sensibilidade, as "meninas do Jô" revelam uma visão mais humanizada da política e dão um ar informal aos debates. Com elas, a discussão de um assunto normalmente árido fica mais leve. A não ser quando desandam a falar ao mesmo tempo, o que sempre acontece, mas não chega a prejudicar. Rapidamente, Jô Soares ou elas mesmas intercedem.

Além do debate com as "meninas do Jô", o Saia Justa, do GNT, é outro dos raros espaços que as mulheres têm na tevê para discutir assuntos que vão além dos previsíveis: moda, saúde, beleza ou culinária. No caso do Saia Justa, o espaço é bem aproveitado em alguns momentos e, noutros, desperdiçado. Com a crise política, as integrantes do programa, Mônica Waldvogel, Betty Lago, Luana Piovani e Márcia Tiburi, também mostram que sabem discutir questões que não girem em torno daquilo que se convencionou chamar de "universo da mulher". Todas parecem estar por dentro dos acontecimentos. Luana, que já admitiu detestar política, parece estar se esforçando para ficar antenada. Num dos últimos programas, chegou a levar notícias de jornais.

Cabe à filósofa Márcia Tiburi, no entanto, ser a "intelectual" do Saia Justa. Durante uma discussão sobre a mulher contemporânea, através de teorias do filósofo francês Gilles Lipovetsky, que esteve recentemente no Brasil, ela até impressionou ao discorrer sobre a singularidade do ser humano. Márcia contestou o discurso generalizado do filósofo, que, segundo ela, classifica todas as mulheres do mundo atual de uma só forma. Mas, logo depois, mostrou que não é tão centrada assim: teve um chilique infantil no estúdio, revoltadíssima com a observação de Gilles de que a mulher brasileira quer ter autonomia, mas sonha com um homem que a apóie financeiramente. Além de pagar um verdadeiro "mico", acabou comprometendo a causa que pretendia defender.

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Betty Lago já marcou sua participação no programa com sandices do gênero "serviço público é uma coisa babaca, onde muita gente fica sentado, carimbando e ganhando o dinheiro dos contribuintes". Recebeu centenas de críticas de telespectadores por e-mail. "É claro que não uso camisinha com o meu namorado", desdenhou Luana Piovani em certa ocasião, contrariando todas as orientações divulgadas pelo Ministério da Saúde. Comentários rasos e inconseqüentes como estes, no entanto, são raros e as conversas costumam ser até interessantes. Uma pena é que Mônica Waldvogel aparentemente resolveu economizar sua base intelectual para o Dois a Um, "talk-show" que comanda aos domingos no SBT. No Saia Justa, ela quase sempre se limita ao papel de mediadora.