Capixaba e com passagem por Minas Gerais – ocasião em que dançou, por 12 anos, no Grupo Corpo -, Inês Bogéa mudou-se para São Paulo e, em 2006, passou a fazer pesquisas sobre as personalidades da dança paulista. “Comecei a perceber que todos citavam o Galpão como um espaço de transformação do entendimento da linguagem da dança”, diz Inês, que hoje atua como diretora da São Paulo Companhia de Dança.

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A frequência com que ouvia falar do movimentado espaço fez com que ela consolidasse sua pesquisa no livro Caminhos Cruzados: Teatro de Dança Galpão 1974 – 1981, que tem lançamento nesta terça-feira, 25, às 19h30, no Sesc Bom Retiro.

O recorte escolhido por Inês é, justamente, o período em que a sala Galpão atinge uma efervescência muito grande em termos de discussão e criação da dança. Isso foi possível porque o espaço recebeu, na época, um apoio público. “Foi a oportunidade que as pessoas tiveram de participar de cursos e ter uma boa estrutura de som, luz”, diz Inês, afirmando que foi esse fomento que ampliou as possibilidades de experimentação.

Por lá passaram espetáculos como Caminhada, de Célia Gouvêa e Maurice Vaneau, e Escuta Zé, de Marilena Ansaldi. Havia espaço, ainda, para eventos de outros gêneros: caso da peça Um Sopro de Vida, com direção de José Possi Neto, e da Semana de Dança.

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Com formato de texto acadêmico, Caminhos Cruzados contextualiza o País nos anos analisados e conta a história do local, desde a conquista do espaço físico até o momento em que a sala Galpão perde o apoio do governo. Para isso, constrói o texto com depoimentos de figuras que vivenciaram a época, como o diretor teatral Marcio Aurelio e as coreógrafas e bailarinas Célia Gouvêa e Marilena Ansaldi – foi desta que partiu a iniciativa de criar o espaço.

Inês também recorreu às publicações da imprensa da época, que noticiava acontecimentos e espetáculos apresentados na sala. O livro tem falas, por exemplo, de Sábato Magaldi e Décio de Almeida Prado, que atuaram como críticos do Estado.

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Apesar de o Brasil viver os sombrios tempos de ditadura no regime militar, Inês frisa que havia, na época, uma conexão com um movimento criativo na dança mundial. “É nos anos 1970 que temos criações de Maurice Béjart e Pina Bausch.

Muitas transformações ocorrem nessa década e São Paulo não fica fora disso: surgem o Balé Stagium, o Corpo de Baile Municipal (atualmente Balé da Cidade de São Paulo) e a Companhia Cisne Negro.” Sem as tecnologias que facilitam a comunicação hoje, o surgimento de novas tendências e a troca de ideias entre a dança que se fazia aqui e no exterior se dava por meio de viagens. Enquanto a bailarina Sônia Mota voltava da Europa, Célia Gouvêa ia estudar na escola belga Mudra. Nome importante para a dança moderna no Brasil, Ruth Rachou também fazia viagens aos EUA, de onde voltava com novidades.

O nome Caminhos Cruzados sintetiza uma característica fundamental para as criações da época: o fato de que a sala Galpão estava inserida no teatro Ruth Escobar propiciava um encontro de bailarinos e coreógrafos com artistas de outras áreas. “Criou-se ali um local de ensaios e cursos”, diz Inês. “Havia o cruzamento com o pessoal do teatro, por exemplo, que circulava pelo espaço.”

O subsídio da Secretaria de Estado da Cultura tem um pequeno intervalo em 1979 e depois é retomado, indo até 1981, tendo De Pernas para o Ar, de Célia Gouvêa, o último espetáculo apresentado ali, naquelas condições. Com o fim do apoio, o número de espetáculos diminuiu e a dança tomou outros rumos. “Assim como em 1979, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) abrigou a 1.ª Mostra de Dança Contemporânea de São Paulo, outros espaços receberam e recebem a dança até hoje”, diz Inês, citando, por exemplo, os teatros Itália, em 2000, e Sérgio Cardoso, atualmente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.