Quando recebeu o convite para protagonizar Da Cor do Pecado, Reynaldo Gianecchini estava determinado a recusá-lo. Depois da desgastante experiência de viver o personagem central de Esperança praticamente ao vivo, em função dos constantes atrasos na entrega dos capítulos, o ator pretendia dedicar-se preferencialmente ao teatro por um bom tempo. E já tinha o convite de Gilberto Braga para uma participação de poucos capítulos em Celebridade, o que lhe parecia bem mais interessante. Mas Reynaldo não resistiu à primeira leitura da sinopse da novela de João Emanuel Carneiro. E hoje não se arrepende nem um pouco de ter mudado de idéia. “É muito raro encontrar personagens bons na tevê, que não sejam apenas bonitinhos”, justifica, sem esconder a preocupação de se livrar da pecha de galã.
Provar que não é apenas mais um rostinho perfeito, aliás, tem sido objetivo constante do ator, desde o começo de sua recente e meteórica carreira na tevê. Ele faz questão de dizer que não teria resistido às duras críticas que recebeu em sua estréia, como Edu, protagonista de Laços de Família, caso não quisesse se tornar um ator de verdade. “Se tivesse entrado nesta só para me tornar capa de revista, teria a carreira abortada logo de cara”, ressalta, com indisfarçável orgulho. A mesma satisfação ele demonstra ao concluir que não fez feio ao diferenciar os gêmeos Paco e Apolo. “É uma excelente oportunidade de crescer como ator. Acho que cada um ficou com um jeito próprio”, avalia, compenetrado.
O mais difícil, no entanto, Reynaldo acha que está encarando agora, quando um de seus personagens se esforça para aprender a “ser” o outro. “Na verdade, são três personagens, né?”, valoriza, com um ar maroto. Aos 31 anos, Reynaldo já deu provas de que não se acanha diante das dificuldades. Talvez por isso ele tenha gostado mais de interpretar Apolo, que considera bem mais distante de si próprio. “Ele é um semidébil. Tinha de me despir de todo meu senso crítico”, explica, revelando que ainda tem esperanças de voltar a incorporar o lutador. “Sempre desconfiei da morte dele. Vou gostar muito se ele voltar, mesmo sabendo que vou enlouquecer de tanto gravar”, confessa, escancarando o sorriso.
P – Você chegou a ter medo de não dar conta do recado?
R – Eu me acho bastante corajoso, gosto de desafios, acho que é o que move as pessoas para frente. Mas é claro que no fundo a gente fica com um medo enorme. Até porque em televisão a gente está sempre à beira do abismo, nunca sabe o que vai acontecer, se vai dar conta do recado ou não, porque é tudo uma incógnita. As coisas vão surgindo e a gente vai fazendo do jeito que vai sacando, sem tempo para ensaiar ou estudar. E acho que esta é a grande experiência que a tevê pode trazer para o ator: a rapidez com que ele tem de resolver as coisas. Senti insegurança em alguns momentos, mas, à medida em que comecei a fazer os personagens, passei a me divertir com eles e tudo isso deixou de ter importância. Parei de pensar se ia dar Ibope, se iam me “descer o sarrafo” ou não. Graças a Deus, ainda estou nesta fase. Estou curtindo muito o trabalho e é isso o que me importa.
P – Que vantagens e desvantagens você enxerga no fato de estar tendo uma carreira tão meteórica na tevê?
R – Acho que é muito cruel estrear na televisão verde como estreei. Sofri muitas críticas e, para reverter esta imagem inicial, preciso ficar o tempo todo provando que não sou um cara que está ali só porque é bonitinho. Por mais que tenha estreado verde, sempre tive vontade de aprender e uma noção muito grande do que queria como ator. Não estava fazendo televisão para aparecer na capa da revista. Por outro lado, se sofri por ter estreado verde, isso também me abriu portas. Recebi vários convites para fazer coisas boas, trabalhei com bons diretores, tive como dar continuidade à minha carreira. Mas acho também que, se não tivesse mostrado que estava querendo evoluir a cada trabalho, seria o fim, seria uma carreira abortada. Acho que consegui mostrar que eu era um cara muito a fim de aprender, e alguns bons diretores me deram a chance de mostrar alguma coisa.
Advogado, modelo e ator
Apesar de guardar na lembrança trechos de pequenas peças no colégio onde estudava quando criança, Reynaldo Gianecchini estreou na carreira artística quase por acaso. Formado em Direito pela PUC de São Paulo, ele só não exerceu a profissão porque já fazia sucesso como modelo, numa carreira que durou oito anos.
Por sentir que faltava algo ao badalado mundo “fashion” que ele resolveu ingressar na companhia de José Celso Martinez Corrêa, diretor do Teatro Oficina. E, numa das apresentações de Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, foi chamado para um teste na Globo. O personagem era ninguém menos que Edu, o protagonista de Laços de Família, de Manoel Carlos. Apesar do sucesso instantâneo com o público feminino, o ator encarou pesadas críticas.
Mas não se abateu. Menos de um ano depois, vivia um modelo na novela As Filhas da Mãe. Nada, no entanto, que o ajudasse a superar a má impressão inicial. A história começou a mudar de figura com Toni, o protagonista de Esperança. O ator conseguiu provar que poderia dar vida a um tipo denso e bem distante dele próprio. “Até hoje fico meio tonto com a rapidez com que as coisas aconteceram na minha vida. Mas não paro muito para pensar nisso. Tenho muito trabalho pela frente”, minimiza, com os pés bem fincados no chão.