Depois de se tornar a primeira mulher a vencer o Prêmio São Paulo de Literatura, Ana Luisa Escorel está de volta ao romance, cinco anos depois. Se antes ela havia construído uma trama costurando fios soltos de relacionamentos, agora ela se volta para a história do Brasil. Dona Josefa (editora Ouro Sobre Azul) reimagina a história de Josefa Maria Roquete Batista Franco Carneiro de Mendonça (1780-1855), uma das líderes da porção mineira da Revolução Liberal de 1842.
Revoltados com o poder centralizador do novo gabinete conservador do então muito jovem d. Pedro II, os liberais protestavam contra medidas fortemente centralizadoras, como mudanças no Código Penal (de acordo com novas leis o imperador nomearia pessoalmente juízes, promotores e chefes de polícia). A revolução não tinha, porém, aspirações reformistas, todos lutavam “pelo” nome do imperador.
Sobre Josefa, a pessoa real, na verdade se sabe pouco. Nascida em 1780, em Goiás, em uma família rica e dona de terras e escravos, ela foi julgada como a liderança principal dos revoltosos do Araxá (na região oeste de Minas Gerais), mas inocentada numa manobra dos seus defensores para transferir a culpa para um de seus filhos, que também era revolucionário. D. Pedro concedeu uma anistia para todos os revoltosos dois anos depois.
O livro conta um período anterior ao julgamento: a ação se dá nos três meses em que Josefa ficou presa em uma solitária na Câmara de São Domingos do Araxá, por conta do seu envolvimento nas contestações políticas, quando ela já estava com mais de 60 anos.
No cárcere, a personagem (fictícia) relembra histórias do seu casamento, remói erros da revolução falha da qual fez parte e desenvolve uma relação com Salvador, um preso “faz-tudo”, que também lhe conta histórias do conflito. Tudo numa linguagem com requintes regionalistas.
A escritora começou a escrever há pelo menos cinco anos. “O estímulo para escrever o romance surgiu das circunstâncias particularíssimas dessa oligarca – salvo engano a única no Brasil, em seu tempo – que, envolvida numa resistência armada a d. Pedro II foi presa, posta em uma solitária por dois meses e meio, num país que tem como hábito e tradição passar ao largo das irregularidades cometidas pelas classes dominantes”, diz Ana Luisa Escorel, por e-mail.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.