Quando a Copa começar, Vik Muniz será visto em campo. Mas é para fazer arte. “Sempre fui um perna de pau. Não consigo fazer mais de três embaixadinhas”, conta o artista plástico, estrela do documentário “Atrás da Bola”, que chegará ao Netflix a partir de 13 de junho.
Nele, Vik se divide entre a missão de montar uma instalação com 10 mil bolas no estádio Azteca, na Cidade do México, outra semelhante na favela do Vidigal, no Rio, e percorrer diferentes países para conferir qual a relação que comunidades de quatro continentes têm com a bola no futebol ou em modalidades derivadas do esporte. “Provavelmente, a final desta Copa será vista por 1 bilhão de pessoas. E um bilhão de mentes estarão ligadas em um ponto do universo, essa esfera. Uma porcentagem dos habitantes do planeta estará olhando para uma coisa só. Isso é fascinante. O universo estará movendo em torno dessa bola”, filosofa.
O título original do longa, “This Is Not a Ball” – Isto Não é uma Bola, em livre tradução – dá mais sentido à produção. Além de atletas profissionais, como Marta, da seleção brasileira de futebol feminino, e jogadores amadores, há depoimentos de historiadores e até de um astrofísico, que fala sobre a relação do corpo. Vik entrevista ainda os alemães responsáveis pelo desenvolvimento bola oficial do Mundial de 2014.
“Eu gostava da arte dele. Precisávamos fazer algo sobre a Copa e o queríamos algo diferente, com uma natureza social”, conta Juan Rendón, diretor colombiano, responsável pela produção mexicana, rodada pela Televisa. As bolas usadas na obra de Vik estarão à venda na internet pelo www.thisisnotaball.com e o dinheiro arrecadado irá para projetos sociais. Em uma das etapas da fabricação, os objetos são costurados manualmente no Paquistão, local que o artista visita. A ideia anterior era aproveitar um projeto de estudantes de Harvard, que criaram bolas que serviam para iluminar ambientes e ajudar populações de regiões pouco desenvolvidas.
Mesmo com referência do Netflix em séries e filmes de ficção, a locadora virtual tem investido em documentários. “Eles se mostraram muito vistos e valorizados por nossos assinantes no mundo, incluindo o Brasil”, analisa Jessica Rodriguez, vice-presidente de conteúdo.
Em “Atrás da Bola”, a equipe registra o atividades esportivas curiosas, como o chinlone, praticado em Mianmar, na Ásia. Na modalidade, os praticantes misturam futebol com dança. No Japão, há uma prática centenária em que os homens, com trajes típicos nipônicos, fazem uma espécie de embaixadinha em que só usam a parte superior do pé. Uma das sequências que mais impressionam, porém, são os times de futebol de Serra Leoa, na África, cujos jogadores têm pernas amputadas.
Como Brasil é um dos focos do longa, os protestos na Copa da Confederações têm destaque. “A gente ia falar de política e futebol pelos protestos que aconteceram no Egito. Não houve necessidade, pois havia uma carga política tão grande no Brasil que aquilo ficou mais interessante”, contou Vik à reportagem.
O artista plástico afirma não se opor às manifestações. “O problema de corrupção de projetos relacionados a essas datas esportivas é complicado. O eleitor não tem como acompanhar”, aponta. Segundo ele, um dos problemas é a relação do investimento e o preço dos ingressos. “De repente, há uma conta imensa passada para o contribuinte que não vai a esse jogo. O torcedor, que paga de forma indireta, em imposto, está impossibilitado de ver. Isso não está certo, não é legal. Não vejo absurdo grande o fato de se criar indignação com esses estádios construídos com bilhões de dólares para um evento que vai durar um mês. Não parece certo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.