Em busca da imbecilidade perdida

São Paulo – A incapacidade é uma virtude para Antoine, jovem francês cuja inteligência e consciência crítica se transformam em obstáculos na busca da felicidade na sociedade atual. Afinal, de que vale ter títulos universitários e ser amante de livros, se a cultura não passa de uma fonte de sofrimentos intermináveis? A questão inspirou o escritor Martin Page a produzir um bem-humorado ato de rebeldia contra uma sociedade que exige a estupidez como passaporte e oferece a massificação como recompensa: o desesperado Antoine é o personagem principal de Como me tornei estúpido, livro de estréia que colocou o tímido Page no meio das principais páginas literárias franceses e que chega segunda-feira às livrarias brasileiras, sob a chancela da editora Rocco (160 pág., R$ 24).

Lançada na primavera parisiense de 2001, a obra pegou os críticos de calças curtas, já cansados (como bem observou o jornal alemão Frankfurter Allgemeine, do niilismo pós-existencialista de Michel Houellebecq, da atitude moralista de Frédéric Beigbeder e do toque de erotismo de Catherine Millet, soluções literárias que deixam o leitor encurralado entre o apocalipse e o suicídio. Em pouco tempo, o livro tornou-se um best seller e não raro vinha acompanhado por frases bombásticas como ?Uma versão moderna de Cândido, de Voltaire?, ?Um sonho interrompido, com um pequeno toque de Boris Vian?, ?Um Bouvard e Pécuchet pós-moderno?.

O escritor, que embarcou em uma malfadada experiência comunista na União Soviética em 1989 depois de trabalhar em empresas empenhadas em lucros e desinteressadas em gente, garante que hoje leva uma vida tranqüila, absorvido pela leitura. Revela, por exemplo, um respeitável conhecimento da literatura brasileira. ?Descobri os textos de Osman Lins, João Guimarães Rosa e Clarice Lispector, mas fiquei fascinado por Lygia Fagundes Telles, especialmente A estrutura da bolha de sabão, em que a escrita é manipulada com firmeza e serenidade.?

Ansioso para vir ao Rio (diariamente conta os dias que faltam, como um presidiário que aguarda a liberdade), ele vai se encontrar com o ministro Gilberto Gil, na próxima semana. ?Será meu primeiro contato com o Brasil.?

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