Um cavalo é a única esperança de salvação de um adolescente americano de 15 anos em A Rota Selvagem, dirigido pelo britânico Andrew Haigh (de 45 Anos e da série Looking). Charley (Charlie Plummer, vencedor do Marcello Mastroianni de melhor ator jovem no Festival de Veneza do ano passado), vive – ou melhor, divide um teto – com o pai, Ray (Travis Fimmel). Solitário, o menino precisa se virar sozinho. Numa de suas andanças, acaba topando com um pequeno hipódromo e a oferta de ajudar o treinador Del Montgomery (Steve Buscemi) em troca de alguns trocados. A jóquei Bonnie (Chloë Sevigny) avisa: “Não se pode criar laços afetivos com um cavalo”. Mas claro que Lean on Pete, o animal, é tudo o que Charley tem.

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“Eu me emocionei muito com a história de Charley, apesar de minha vida ser muito diferente da dele”, disse o diretor em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, durante o Festival de Zurique. Ele conheceu o livro em que o filme se baseia, escrito por Willy Vlautin, cinco anos atrás. “Acho que foi a necessidade de Charley por segurança, por proteção e compaixão, algo fundamental para todos.”

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Charley, que mora num subúrbio Portland, no Estado de Oregon, não poderia estar mais distante da realidade hipster pela qual a cidade é famosa. É um garoto sensível, mas que seria chamado pejorativamente de “white trash” (“lixo branco”), a classe média baixa empobrecida e de baixo nível educacional que formou o grosso dos eleitores de Donald Trump – algo que não escapou ao cineasta inglês. “Sou politicamente engajado e me preocupo com o que acontece no mundo”, disse. “Mas acho fundamental, mesmo se você se considerar de esquerda, como eu me considero, tentar compreender por que as pessoas votam em Trump, porque tem a ver com um fracasso da esquerda de ajudar essas pessoas. O sonho americano não existe para essas pessoas, e Trump foi capaz de captar isso. E está acontecendo em outros países também, no Reino Unido com o Brexit foi muito parecido.”

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O livro e o filme têm um olhar humano e generoso com todos os personagens, mesmo quando eles erram ou fazem coisas más. “Isso não significa que sejam fundamentalmente maus, eles estão lutando para não afundar”, disse Haigh.

Mesmo sendo inglês, ele não teve dificuldades de captar o modo de vida das pessoas à margem na sociedade americana. “As pessoas são essencialmente muito parecidas, independentemente de onde vêm”, disse. “Quis só retratar o ambiente da forma mais honesta possível.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.