O ator Tony Ramos fala sobre seu personagem Zé Maria, carreira e audiência em entrevista por telefone, de sua casa, no Rio, numa manhã, antes de ele encarar mais um dia de maratona de gravações da novela das 9, A Regra do Jogo.
Zé Maria é o maior vilão no seu rol de personagens?
Isso sem dúvida. Sempre fiz tipos mais românticos, mais heroicos, pelo menos na memória popular. Mas fiz tipos que eram de uma vilania torta, aquele homem que usava de subterfúgios para conseguir subir a escala social. Isso fiz, por exemplo, na segunda versão da novela Selva de Pedra (1986), em que ele se utilizava de uma mulher muito rica. Vou buscar em Rainha da Sucata (90), com Regina Duarte, um quatrocentão falido que fingia amor por uma mulher muito rica que era emergente, e ele se utilizava daquele amor que ela tinha por ele como maneira de manter o status quo da família. Você vai pegar um homem absolutamente enlouquecido, em fúria, porque ele surpreende a mulher em atos libidinosos, com dois homens ao mesmo tempo, em Torre de Babel (98). Ali, ele mata a mulher. Provocamos um susto no Brasil, porque ele a matava com uma pá. Ele é preso em flagrante, fica 20 anos no Carandiru. Acho que a experimentação junto ao público, de alguma forma, leva ele a entender a trajetória de um artista. É o que digo sempre nas palestras que faço – sou convidado a muitas e, quando posso, faço de bom grado, em universidades, em lugares que preparam alunos para o futuro. Digo: qualquer profissional tem de procurar crescer na sua experimentação, e assim é comigo.
Mas, para o espectador, no começo, ficava a dúvida se Zé Maria era vilão ou um fugitivo tentando provar a inocência. Então, esse vilão já era desenhado desde a época do convite?
Eu sabia desde dezembro. O João me contou: esse é um homem que tenta provar sua inocência perante seu filho. Porque, na verdade, o grande amor da vida dele é o filho. Ele não quer, em nenhum momento, que esse rapaz se torne um bandido como ele é. É um sentimento contraditório de um assassino frio. Aí, li muito, ele me deu alguns trabalhos, o departamento de pesquisa nosso mostrou algumas coisas, pesquisas mundiais sobre como funciona a cabeça de certos psicopatas. Tem uma série deles. Tem aquele que fica na dualidade entre o “profissionalismo” do assassinato, do crime, e uma defesa dos entes mais queridos dele. Claro que é um homem perigosíssimo, doente. O Zé Maria era um trabalhador, até que ele começou a servir ao crime. Essa parte ainda não está explicada e é para o final da novela.
Perguntaram se você tinha medo de rejeição desse personagem e você respondeu que não tem mais idade para isso…
Todos temos de ter respeito ao próximo. Agora, não posso, em nenhum momento, ficar me ligando em opiniões divididas. Quando eu disse que não tenho mais idade para isso, é que não tenho de ficar olhando tudo isso. Quando você me pergunta sobre Twitter, seguir alguém, não tenho isso na minha vida. Não tenho Facebook, Instagram, estou livre dessas dependências todas.
E por que você não tem?
Porque não tenho a menor curiosidade de saber da vida dos outros. A internet foi feita, para mim, para pesquisa, adoro ver coisas de turismo. E vivo muito bem com isso. Ainda sou de um bom livro, de jornais na minha mão. Me guio pelo respeito ao espectador. Faço o melhor possível, trabalho uma média de 11 horas por dia. Não tenho problemas com opiniões contrárias. Quando fiz propaganda de carne, diziam: ‘não esperava isso de você’. Mas por que não? Comercial de remédio podia, de bebida alcoólica podia? Não faço propaganda disso. Conduzo minha carreira de uma maneira muito transparente