Quem foi ao Rio de Janeiro e São Paulo pode contar com mais detalhes. Mas os shows de Madonna, no final do ano passado, foram eventos inesquecíveis. Primeiro pela qualidade da apresentação, pela força contestatória da cantora e pelo pleno sucesso da passagem dela no Brasil. Mas também foi o encontro dos fãs mais ardorosos da musa pop – vindos de todos os estados e dos países da América do Sul, vestidos como Madonna (não importando o sexo) e fazendo vigílias em frente aos estádios do Maracanã e do Morumbi, os desesperados fãs foram atrações à parte.
E se foi assim com uma estrela como ela, imagine como será nos dias 17 e 19, quando Elton John vai se apresentar em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Será uma nova onda de frenesi, a repetição de cenas vistas no ano que passou, talvez com uma turma de maior idade, mas com o sentimento também à flor da pele.
Parece estranho imaginar isto para um artista que vive, inevitavelmente, um período de declínio na carreira. Há vinte ou trinta anos, Elton John era o grande “superstar” da música internacional, um caso raro de músico que conseguia sobreviver à crítica e entreter o público. Nos anos 1970s, ele teve sucessos como Goodbye Yellow Brick Road, Candle In The Wind, Daniel e Your Song, que transcenderam a cena “glam” da Inglaterra e viraram hits internacionais.
Mesmo os mais renhidos conseguiam ver qualidade embaixo dos óculos gigantes, das roupas coloridas e da atitude homoerótica. Por sinal, por mais “diferente” que fosse o visual do cantor e compositor, ele nunca quis usar de sua condição sexual para arrebanhar admiradores. Pelo contrário – Elton John é um artista que passa por cima do preconceito.
Na década de 80, o cantor ganhou ainda mais fãs (e vendeu mais discos) com uma série de sucessos que hoje estão restritos às rádios de música “suave” – a rigor, todo o repertório dele está nestas emissoras. Mas Elton John se aproximou mais dos quarentões, e se afastou da crítica, com canções como Sorry Seems To Be The Hardest Word, Don’t Let The Sun Go Down On Me e Blue Eyes, que virou até tema de narrador esportivo em Curitiba. A canção emblemática deste período é Nikita, que tocou muito em 1984, e ficou marcada pelo bizarro videoclipe, em que Elton luta pelo amor nas ruas de Moscou (a versão brasileira de Nikita é a constrangedora Moscovita, de Erasmo Carlos).
Os últimos quinze anos da carreira de Elton John foram de discos comemorativos (aniversários de carreira ou a festa dos seus sessenta anos) e de tentativas de reencontrar a sonoridade antiga e se reaproximar dos mais jovens. Ele, como bom integrante do mainstream, sabe que a indústria musical tem a necessidade de ficar sempre próxima da juventude. É a garotada que indica as tendências da música internacional.
E por mais que Elton se esforce, ele está longe do que interessa à juventude. Ele não consegue, assim como outros de gerações posteriores à dele, como Seal e George Michael, por exemplo. Mesmo Michael Jackson, que foi o maior fenômeno de vendagem da história da música, não consegue repetir mais o sucesso.
Mas como ainda tem muitas músicas no inconsciente coletivo de quem viveu os anos 1970s e 1980s, o cantor e compositor inglês ainda pode lotar espaços gigantescos como a praça da Apoteose, no Sambódromo do Rio, ou o centro de convenções do Anhembi, em São Paulo. Serão shows inesquecíveis, que vão ser transmitidos pela TV e que virarão notícia com as canções sendo entoadas por um coro de dezenas de milhares de pessoas. Muita gente fará fila nos locais das apresentações, serão entrevistados e dirão que não aguentam mais esperar pelo ídolo, que estará em um quarto remoto de um hotel cinco estrelas, e será o assunto dos sites e re,vistas de celebridades no tempo em que estiver por aqui.
Daqui a alguns anos, o frenesi vai diminuir. Mas não acabar – como ficou provado na turnê dos remanescentes do Queen.
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