Foi o mais tranquilo dos grandes shows desde que a Pedreira reabriu. O público tem um perfil diferente, mais experiente. Muitos cabelos brancos na plateia: gente que ouve James Taylor e Elton John desde os anos 1970. Até por conta desse público diferente, a Pedreira foi reconfigurada para as apresentações. Há dois grandes espaços para camarotes nas duas laterais – em geral, só há um.
Há outra peculiaridade. Os bares estão servindo, além da cerveja que patrocina o show, taças de um razoável vinho português a R$ 15.
Depois da boa apresentação de James Taylor, que por causa do dedo médio quebrado não pôde tocar guitarra nem violão, foi a vez do astro principal subir ao palco.
Elton John não decepciona. Com um escandaloso terno negro de lantejoulas rubras, já chega acelerando com ‘Bitch’. Tudo que teve de manso com Taylor some em segundos. Agora é outro tom. No piano ele atacou o clássico ‘Benny and The Jets’ com sua super banda.
Elton John, com a voz impressionante aos 70 anos, põe fogo na noite. Canta as melodias que tocam no rádio todos os dias, no mundo inteiro, há 50 anos. Pouco papo e muita ação. Um sucesso atrás do outro. A “família curitibana” exulta com a sequência de hits.
A banda enxuta, com baixo, guitarra, teclado, bateria e percussão faz um som limpo e maciço. O som do palco tá perfeitamente equalizado no volume intensidade. Em dado momento, Elton fez sozinho no piano uma rapsódia passando por vários estilos e andamentos. Ele é um pianista pop, herdeiro da tradição dos instrumentistas dos cabarés e clubes noturnos. Fenômeno.
Casais de avós dançando de rosto colado na brita da Pedreira. Elton John domina toda a técnica desta brincadeira, do rock’n’roll puro ao pop radiofônico, cafona na medida certa.
A cada música ele vira para o público e do alto de seu 1,65 m faz mesuras com suas poses tradicionais. Elton é da família real do pop. Muita gente que foi à Pedreira pela primeira vez teve a sorte de ver um dos melhores shows da história da cidade.
É difícil dizer se no último show da turnê a voz estará assim tão perfeita como esteve no show de Curitiba, mas comparado com os cantores de sua geração, ele é impressionante.
O cantor britânico George Michael, morto no final do ano passado, ganha uma bela homenagem quando Elton canta “Don’t Let the Sun Go Down on Me”.
No bis, tocou “Candle” e “Crocodile Rock”.
Noite especial na Pedreira. A força da música pop levou senhores e senhoras a ficarem quatro horas em pé, dançando para ver um artista de elite, que sabe que é e nunca teve medo disso, e que provou mais uma vez que o difícil é fazer o simples.