Um garoto de 18 anos que mal ouviu LPs e que aprendeu arte digital assistindo a aulas pela internet está em um lugar onde milhares de designers gráficos pagariam para estar. Ahmed Emad Eldin, nascido na cidade de Jedá, na Arábia Saudita, mas criado no Cairo, Egito, se tornou uma celebridade de proporções mundiais desde que a banda Pink Floyd o convidou para fazer a capa de seu próximo disco.

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Suas obras de pegada sinistra e surrealista convenceram o grupo de que era ele o melhor substituto para o lendário Storm Thorgerson, o artista plástico inglês morto em 2013, responsável pela maioria das capas dos LPs do grupo. Ahmed não fez nada para que sua vida mudasse tanto em tão pouco tempo. Apenas atendeu ao telefone. “Eles viram meus trabalhos no meu site”, diz Ahmed ao Estado, por e-mail, do Cairo.

A imagem criada por ele para ilustrar a capa de Endless River, o novo disco do Floyd com lançamento mundial previsto para o dia 7 de novembro, mostra um homem de pé em uma canoa, remando sobre um mar de nuvens em direção ao sol poente. Uma cena com mais luz e cores do que os trabalhos que está acostumado a fazer e que pode estar dialogando com o som que o grupo vai trazer, embora Ahmed diga que não ouviu nada do disco, nem para se inspirar. “E também não conheço os músicos”, conta, o que soa também como uma estratégia de sigilo acordada em contrato que esses grupos costumam fazer com seus parceiros.

Endless Love traz temas instrumentais divididos em quatro partes e orientados por ideias e sobras de estúdio da época do álbum Division Bell, de 1993, o último disco da banda. O grupo já anunciou que será este também um álbum para homenagear o tecladista e cofundador do grupo, Richard Whight, morto de câncer em 2008.

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Ahmed conta como foi o começo de sua carreira. “Quando eu tinha 13 anos, comecei a assistir aulas de desenho pelo You Tube. Meus pais são a principal razão para que todo esse sucesso esteja acontecendo. Na verdade, eu comecei a me interessar por arte digital porque, quando tinha 8 ou 9 anos, meu pai me apresentou alguns websites e eu disse a ele quanto gostaria de criar coisas como aquelas.”

O curioso é que Ahmed não é de uma geração que venera capas de discos. Ele diz que seus amigos consomem mais músicas pela internet, mas aposta que “os fãs de verdade ainda compram CDs”. “Você está certo quando diz que os jovens não estão consumindo discos, mas eu acho que ainda há muitas pessoas comprando CDs, sobretudo os fãs verdadeiros.” Seu processo de criação da imagem do álbum não parece ter sido fruto de uma inspiração especial. Ahmed narra que a criou com o mesmo ritual que usa para todos os seus trabalhos. “Primeiro, eu desenhei um rascunho com o que estava em minha mente. Então, comecei a fazer simulações com este rascunho e a ter ideias incluindo imagens reais, o que chamamos de manipulação fotográfica.”

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Ahmed não quer aparecer em jornais, apesar do grande assédio da imprensa mundial desde que seu nome foi divulgado como o novo designer gráfico do Pink Floyd. Ele relutou para mandar uma foto sua ao repórter, pedindo por várias vezes que o jornal usasse apenas as imagens de seus trabalhos. Por fim, aceitou enviar uma selfie em preto e branco desfocada e em que quase não aparece.

Uma ação de marketing exibiu a imagem criada por Ahmed semana passada para um grande público, chamando os fãs do Pink Floyd para o lançamento do disco. Grandes outdoors foram colocados em pontos estratégicos das cidades de Nova York, Londres, Paris, Sydney, Berlim e Milão.

Contudo, o trono de Storm Thorgerson, que fez capas também para Led Zeppelin, Offspring, Megadeth e Audioslave, segue vago. Os assessores do Pink Floyd não anunciaram Ahmed como um designer fixo da banda, como era Thorgerson (que só não desenhou para os álbuns The Wall e The Final Cut). Mas, certamente, seu nome já virou grife em um mercado que continua movimentando altas cifras.

Ahmed não revela quanto vai receber da banda, mas a quantia não deve ser pouca.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.