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Eduardo Praça lança primeiro disco solo ‘Apeles’

Eduardo Praça sabia que o fim estava próximo. Ápice e ruína se separavam por poucos dias. O duo Quarto Negro, formado ao lado do amigo Thiago Klein, havia se apresentado no prestigioso festival Primavera Sound, em Barcelona e, pouco depois, Praça se via em Toulouse, no sul da França, sozinho, a trabalhar nos rabiscos que viriam a se tornar letras da nova empreitada, desta vez sozinho. Por uma semana no mês de junho do ano passado, remexeu em versos e texturas. Cantou, só, sobre ele mesmo, amores, desamores e ciclos que chegam dolorosamente ao fim. Voltou ao Brasil decidido do caminho que queria percorrer. Surgia ali “Apeles”, nome adotado por Praça, como um novo personagem musical, cujo álbum de estreia, chamado “Rio do Tempo”, foi lançado recentemente.

Também guitarrista da banda visceral Ludovic, reerguida recentemente com o lançamento da primeira música inédita em 11 anos, Praça pisa no freio no seu debute completamente solo. Apeles não é Ludovic, também não é Quarto Negro, a melancólica dupla que lançou dois discos elogiados e dois EPs. É um terceiro elemento, com características semelhantes, principalmente no peso dos versos, carregados com quilos de arrependimentos, desamores e desilusões.

“Eu sinto que esse é um trabalho muito honesto e visceral, como os anteriores”, avalia Praça, que enxerga uma linha conectando Ludovic e o Quarto Negro, embora tão sonoramente distantes. “Mesmo que o Ludovic tenha uma estética sonora mais agressiva do que o Quarto Negro, as músicas de ambos são intensas. E é assim que os projetos se conectam. Eu percebo que existe um público que gosta das duas bandas.”

Invariavelmente, é na derrota, venha ela da forma que for, o combustível para a criação de Praça. Rio do Tempo confirma isso, mas aponta para uma nova alternativa. Como um disco feito décadas antes, o álbum tem lados A e B bem definidos – e iniciados por faixas instrumentais – e que percorrem uma jornada. Da descoberta do amor ao fundo do poço e, por fim, a compreensão de que a vida é feita por tombos e tropeções. “Acho que a ideia de adotar um novo nome artístico tem relação com isso também”, diz Praça. “Vem da proposta de ser esse personagem e, ao mesmo tempo, não repetir o Ludovic nem o Quarto Negro. E, se em algum momento futuro eu cansar dessa estética, dessa sonoridade, posso deixar esse nome para trás.”

Nome, aliás, é uma escolha para homenagear a poeta portuguesa Florbela Espanca, “uma inspiração em vários momentos”, explica Praça. Apeles era o irmão mais novo dela, um aviador morto de forma trágica. Até na escolha do seu pseudônimo, Praça recorre à um personagem conflituoso.

“Compus as músicas desse trabalho em um momento de muitas mudanças na minha vida. De fechar e iniciar novos ciclos”, relembra. Assim foi o meio do ano passado para o músico: um amor que chegava ao fim, para dar espaço para o que o futuro reservasse; uma banda se silenciava enquanto uma nova aventura musical tomava forma.

Coproduzido por Praça e Leonardo Marques, da ótima banda Transmissor, e com participação de Helio Flanders nos vocais da sentida Clérigo, Rio do Tempo tem mais do músico de 30 anos do que qualquer outro trabalho. “Trabalhar sozinho é você contra os seus demônios, não tem com quem dividir isso”, ele avalia. “Mas é mais intenso. Eu gosto assim.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

APELES

Teatro da Rotina – Rua Augusta, 912, Consolação, tel.: 3582-4479. Dia 26 (4ª), 21h. R$ 20 (antecipado) ou R$ 40.

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