A lembrança de que se ainda vivesse, um crítico literário comemoraria seus cento e dez anos no último dia 8 de maio, poderia parecer afetação se a pessoa referida não fosse Edmund Wilson. Formado em Princeton e considerado por Gore Vidal como a ?maior cabeça da América?, Wilson foi um intelectual com uma ampla gama de interesses, que teve como maior legado estabelecer os rumos da crítica literária após a década de vinte.
Os seus julgamentos estéticos sobre a obra de alguns escritores modernistas iriam ser assimilados gradativamente pela sociedade americana. Principalmente após a publicação em 1931 de sua obra-prima O Castelo de Axel, que traz na abertura um artigo sobre o simbolismo e textos sobre obras dos escritores Joyce, Valéry, Eliot, Stein, Yeats, Proust e Rimbaud.
Para se ter idéia do feito de Wilson, a publicação do livro aconteceu num tempo em que o Ulisses de Joyce era considerado pornográfico, analfabeto e mal-educado e que a poesia de T. S. Eliot era dita obscura por gente do calibre de Virgínia Woolf, a queridinha da vanguarda inglesa. Nas palavras do crítico norte-americano Hugh Kenner em artigo sobre O Castelo de Axel, ?é difícil dizer qual defeito Virgínia Woolf considerava mais repreensível, indecência ou obscuridade?.
Três dias antes de sua morte (Edmundo), na sua velha casa de pedra. |
Evidentemente, várias das considerações feitas por Wilson não permanecem inabaláveis, mais de setenta anos após a publicação, o que, aliás, não é de se estranhar no mundo literário. Numa época em que os experimentos desses escritores eram vistos com indiferença ou repulsa, grande parte das afirmações de Wilson se mostraram vigorosas, acabando por definir um movimento literário maior e trazendo à tona os significados de obras obscuras e difíceis. Conforme Jeffrey Meyers, em sua biografia sobre Wilson, o Castelo de Axel ?só nos parece tão familiar hoje em dia porque absorvemos completamente suas idéias? .
No artigo sobre Ulisses que consta em O Castelo de Axel, por exemplo, Wilson não se deixou levar pelo boato construído pela imprensa marrom e por outros críticos, de que Joyce era um pornógrafo e misantropo. Ao contrário, ele viu no texto do autor serenidade e isenção.
Sobre o estilo do escritor, Wilson afirma que ?em Ulisses, Joyce não apenas se deu ao trabalho de mostrar com extrema precisão e beleza as visões e sons entre os quais seu povo se movia, mas mostrou-nos o mundo tal qual seus personagens o percebiam, para encontrar um ritmo e vocabulário únicos para representar os pensamentos de cada um. Joyce tentou demonstrar exaustiva, precisa e o mais diretamente possível – dentro da possibilidade das palavras como é nossa participação na vida, ou melhor, como ela se apresenta a nós, a cada momento que vivemos?.
Após a publicação da obra que com o tempo se tornaria seu maior sucesso, Wilson viveu mais de 40 anos, até 1972, o suficiente para escrever uns 50 livros sobre variados temas, como a tradição revolucionária européia, a guerra civil americana e os manuscritos do Mar Morto. Nas palavras de Meyers, ele foi ?a mais inteligente e cosmopolita figura norte-americana?.
Modernos e o simbolismo
Atento às experimentações dos escritores de língua inglesa de sua época, Wilson detectou influências simbolistas na obra dos modernistas, em especial, analisados em O Castelo de Axel. ?A obra desses escritores tem sido, em grande parte, prolongamento ou extensão do simbolismo?, afirma.
No artigo sobre esse movimento literário em O Castelo de Axel, ele fala da influência de Mallarmé e de outros poetas na literatura de sua época. ?A história literária de nosso tempo é, grandemente, a do desenvolvimento do simbolismo e da sua fusão com o naturalismo?.