Editoras se unem pelo projeto “Às de Colete”

Duas editoras, a Cosac & Naify, e a 7 Letras, se unem num projeto batizado por ás de Colete, cujo objetivo é editar obras de poetas nacionais e estrangeiros. A série começa com o brasileiro Cacaso (Antônio Carlos Ferreira de Brito) e com a portuguesa Adília Lopes (Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira).

Uma das figuras mais marcantes da poesia brasileira dos anos 70 foi, sem sombra de dúvida, o Cacaso, como ele gostava de ser chamado. Foi uma das mais criativas vozes daqueles anos de desbunde e ditadura, participando criticamente do que se chamou “poesia marginal”, criando coleções de poesia e escrevendo artigos em jornais e revistas, além de ter sido letrista dos mais notáveis dentro da MPB. Sua poesia, porém, há muitos anos que está fora das prateleiras das livrarias. Desde sua morte prematura, em 1987, somente Beijo na boca foi reeditado. Com Lero-lero. Cacaso volta a circular e numa obra completa que reúne desde seu primeiro livro Palavra Cerzida (de 1967) até o último Mar de mineiro (de 1982), com acréscimo de poemas inéditos.

Em Lero-lero, pode se acompanhar a trajetória da poesia de Cacaso, desde seu início, marcado inclusive por uma influência de poetas como Cecília Meireles, Carlos Drumond de Andrade, até a depuração e liberdade que ele conquistou principalmente no encontro com a situação política brasileira dos anos 70, com a preocupação cada vez maior com a formação histórica brasileira e até mesmo com a linguagem lírica advinda da experiência de Cacaso com a música popular. Lero-lero resgata, em poemas que misturam humor, perfídia, desilusão e lirismo, uma trajetória poética das mais importantes da nossa literatura e que já vinha circulando por fora, em xerox.

Já Adília Lopes é hoje uma das mais importantes poetas de Portugal. Desde que surgiu, em 1985, com o livro Um jogo bastante perigoso, leitores e críticos perceberam que estavam diante de algo inovador dentro da lírica portuguesa. Alguns de seus poemas logo foram traduzidos para o francês e o alemão. Adília rompia com uma certa tradição contemplativa que permeava boa parte da poesia de seu país. Trazia o verso para casos corriqueiros. Para situações banais e cotidianas, pequenas ou longas narrativas poéticas marcadas por um humor extremamente moderno, muitas vezes corrosivo.

Antônio Carlos, Antologia, organizada pelo poeta Carlito Azevedo, traz uma seleção de poemas de Adília Lopes que vão dos seus primeiros livros, passando pelos já classificados O poeta de Pondichéry (de 1986) e O Decote da dama de espadas (de 1988), até os recentes Florbela Espanca espanca de 1999) e O regresso de Chamilly (de 2000).

Como escreve a crítica literária Flora Süssekind, no posfácio escrito especialmente para esta edição brasileira, intitulado Com outra letra que não a minha”, a escritora cria um campo poético ficcionalizado. Ela sugere ao leitor uma certa intimidade, por tratar de assuntos pessoais, mas que logo é afastada pela inclusão do elemento narrativo, pois não se sabe quem está falando – se o poeta ou se uma outra voz, de um narrador ou de um personagem.

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