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Editoras comentam crise no setor livreiro e começam o balanço da Bienal

Com a crise interna no setor livreiro – grandes redes de livrarias renegociando acordos e tendo dificuldades para pagar fornecedores -, as editoras chegaram com expectativas à 25ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que vai até amanhã, domingo, dia 12. Se algumas testemunharam crescimento nas vendas até superando previsões, outras ficaram satisfeitas com os resultados que “empataram” com os da última edição, em 2016 – ainda sem os números do segundo fim de semana, comumente o melhor no sentido comercial.

A Melhoramentos, por exemplo, tem com motivos para comemorar: além de um crescimento expressivo nas vendas na Bienal (até quarta-feira, o valor era 57% maior do que no evento passado) e de comemorar 128 anos em 2018, a editora vai reinaugurar seu prédio no bairro da Lapa, em São Paulo. A ideia é estabelecer um novo centro cultural, recebendo mostras e eventos, a partir de setembro.

Superintendente da editora, Marcus Vinicius Barili Alves afirma que a presença institucional da casa na Bienal paga o metro quadrado investido. A exposição para consumidor, professores, livreiros e distribuidores, diz, é fundamental para o balanço da editora no evento. Sobre a crise interna do setor, ele lamenta pelo consumidor final. “Algumas publicações podem não ter sido lançadas, títulos podem não chegar ao leitor por causa da falta de crédito. Talvez o leitor tenha de pagar mais, criam-se algumas dificuldades. Isso nunca é bom.”

As previsões do Grupo Autêntica, por outro lado, apontam para um “empate” nas vendas com a edição de 2016 ou um crescimento pequeno, de um dígito. Para a gerente de venda de varejo da empresa, Judith de Almeida, a ausência da Saraiva é “lamentável”. O consumidor final, na sua opinião, também já pode sentir efeitos da crise interna do setor, com um eventual decréscimo na bibliodiversidade das livrarias. “Mas é importante lembrar que as lojas funcionam com consignação, elas estão vendendo os estoque”, afirma.

O Painel da Venda de Livros no Brasil divulgado na quinta-feira, 9, mostrou que as vendas de livros no varejo tiveram um semestre de praticamente 10% de crescimento em relação ao ano passado, mas houve queda nos dois últimos meses da pesquisa, pós-greve de caminhoneiros e Copa do Mundo. “A editora está fazendo tudo que pode para participar da recuperação das livrarias”, afirma Judith, citando esforços de crédito e de caixa. “O melhor lugar para vender livro é onde vende livro.”

Depois de ter começado a Bienal do Livro com um crescimento de 20% nas vendas em relação ao primeiro fim de semana de 2016, a vice-presidente do Grupo Record, Roberta Machado, lamenta que o ritmo não tenha se mantido durante a semana. “Claro que o recebimento em caixa numa Bienal é praticamente à vista e isso é positivo, porém não chega a compensar nem mesmo aliviar a falta de recebimento de boas livrarias”, explica, por e-mail. “O alívio da Bienal ao mercado não é financeiro, mas é uma injeção de ânimo pela confirmação do interesse do jovem pela leitura. Isso dá indicações positivas ao setor.”

Para ela, a crise do mercado livreiro força a diminuição de lançamentos, reedições, aquisições e renovações de contratos de direitos autorais por parte das editoras. “O consumo que se perde não é absorvido de forma rápida ou automática por outros canais, incluindo a internet. Apenas uma parte dele. A livraria, por sua natureza, é um espaço não apenas de venda, mas de promoção do livro. O impacto dessa difusão vai muito além da venda que realiza diretamente. Com isso, menos livros conseguem ser vistos e conhecidos em uma escala mais ampla pelo leitor.”

Marcos da Veiga Pereira, sócio-diretor da Sextante, diz também por e-mail que “a Bienal demonstra que o livro não está em crise, que há um problema localizado em duas redes de livrarias”. Ele não nega, porém, que a crise afeta os consumidores ao diminuir canais de distribuição e prejudicar o acesso aos livros, bem como quando as editoras precisam diminuir o número menor de lançamentos.

As Edições Sesc também têm previsão de resultado de vendas parecido com o de 2016, o que é um “bom negócio” nas circunstâncias atuais, segundo o gerente da editora, Marcos Lepiscopo. Sobre a crise, ele tenta ser otimista ao sugerir que o momento pode trazer transformações necessárias para o mercado. “O modelo de negócio precisa ser repensado. Houve uma grande concentração, as livrarias de rua foram quase aniquiladas. Com o modelo de consignação, cria-se uma interdependência muito grande.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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