Um dos endereços mais agitados do Rio de Janeiro nos anos 1930 e 1940 era a Rua do Ouvidor, 110. Ali, onde funcionava a Livraria José Olympio, reunia-se, especialmente aos sábados, aquela que seria considerada a nata da literatura brasileira, autores como José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Marques Rebelo, entre vários outros. O ponto em comum era a amizade e o reconhecimento que todos compartilhavam com o paulista José Olympio (1902-1990), cuja editora representou o grande estímulo para os jovens talentos. E hoje, quando a casa editorial completa exatamente 80 anos, o direcionamento continua privilegiando a escrita nacional.
“Quando o grande interesse estava focado na literatura francesa, José Olympio apostava nos autores nacionais e foi responsável, por exemplo, pelo lançamento da geração de 1930”, comenta Maria Amélia Mello, que está na editora desde 1985 e hoje é sua atual diretora.
Modesto filho de português que começou a vida lavando vidros numa farmácia, José Olympio mudou-se para o Rio depois de ter comprado e vendido a biblioteca de Alfredo Pujol em São Paulo. Na capital carioca, logo se estabeleceria ao lançar toda a obra dos romancistas, poetas, críticos relevantes e até do pintor Portinari, que foi capista da editora e teve por ela lançado, logo após a morte, um livro de poemas.
Seu mérito foi dar o devido apoio a escritores que, mesmo já publicado por outra casa, ainda viviam no obscurantismo. Augusto Frederico Schmidt, por exemplo, descobriu Graciliano Ramos lendo o relatório do então prefeito da remota Palmeira dos Índios, Alagoas, e dele publicou o livro de estreia, “Caetés”. Mas foi na J.O. que se tornou conhecido nacionalmente.
Caminho idêntico foi percorrido por José Lins do Rego, cujo “Menino de Engenho” só se tornou um best-seller quando editado por Olympio – o cuidado editorial, aliás, refletia-se na capa e ilustrações, do artista Santa Rosa. E há ainda o exemplo de Rachel de Queiroz, que se tornou comentada a partir de seu terceiro livro, “Caminho de Pedras”, o primeiro sob a chancela da editora carioca.
E não era apenas na ficção que as edições da José Olympio se destacava. Sob a direção de Gilberto Freyre (cujo “Casa-Grande & Senzala” foi lançado por Schmidt em 1933, mas atingiu notoriedade na J.O. a partir da 4.ª edição), foi criada a coleção “Documentos Brasileiros” e a inauguração, em 1936, aconteceu justamente com “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda.
Há também dissabores – na recente reedição de “Graciliano: Retrato Fragmentado” (editora Globo), ao traçar o perfil de seu pai, Ricardo Ramos lembra que, em 1955, quando a editora mudara de comando, a obra de Graciliano não era mais devidamente reeditada. “A Casa mudara de rumo. Apegara-se a figuras públicas, adiara os escritores em que investira”, escreveu Ricardo, que levou a obra do pai para a Martins Fontes.
Era o prenúncio de uma queda que culminaria em 1975, quando, depois de dificuldades financeiras, a J.O. foi encampada pelo BNDES. Por conta disso, diversos de seus autores tiveram de procurar outros selos editoriais. O ressurgimento aconteceu em 2001, com a aquisição da marca pelo grupo Record, de Sérgio Machado. Com isso, aos poucos, antigos escritores acabaram voltando e hoje a José Olympio tem em seu catálogo obras de Ariano Suassuna, Ferreira Gullar, Rachel de Queiroz, José Cândido de Carvalho, Augusto Meyer, entre outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.