Na noite de quinta-feira, dia 15 de maio, e nas primeiras horas da sexta-feira, dia 16 de maio, a Lua irá penetrar sucessivamente nos cones da penumbra e sombra da Terra, quando será possível acompanhar todas as etapas do eclipse. O período mais belo de um eclipse lunar é quando o disco luar estiver totalmente encoberto pela sombra da Terra. Em conseqüência, a Lua cheia estará avermelhada. Não muito longe do disco eclipsado da Lua, será possível visualizar a estrela Antares, que em virtude de sua tonalidade muito semelhante à coloração avermelhada do planeta Marte, ficou conhecida como Anti-ares, ou seja, a estrela Rival de Marte, uma vez que o nome do planeta . Marte em grego é Ares. Esta conjunção da Lua eclipsada ao lado de Antares com o brilho vermelho será um dos aspetos mais notáveis e belos deste eclipse.
O eclipse começa, na noite de 15 de maio, quinta-feira, às 22h05,2 min, com a entrada da Lua no cone de penumbra. Esta fase inicial do eclipse é de difícil observação. Somente após haver ultrapassado a metade da penumbra é que se começa a distinguir um ligeiro obscurecimento na superfície lunar. À medida que se desenvolve o eclipse, o obscurecimento se acentua.
Ao entrar no cone de sombra, às 23h02,5min, a Lua se apresenta, de início, como se tivesse sido “mordida”. Trata-se do momento que a Lua começa a penetrar no cone de sombra da Terra. Daí em diante a região escura vai-se estendendo pela superfície da Lua e o obscurecimento torna-se cada vez mais intenso. As sombras da Terra projetada sobre a superfície da Lua começam a se deslocar, eclipsando as crateras lunares.
A fase de totalidade do eclipse ? a mais bela e interessante para os observadores-, irá ocorrer 00h13,4min, na sexta-feira do dia 16 de maio. O meio do eclipse vai ocorrer, às 00h40min, quando o disco lunar se apresentará totalmente encoberto, com uma coloração avermelhada cor de tijolo. Essa tonalidade vermelha escura é provocada pela difusão da luz solar nas altas camadas da atmosfera terrestre. É o momento culminante do eclipse. Às 1h06,4min, é o fim da fase de totalidade, que deve durar cerca de 53 minutos. A Lua começa a sair da sombra, às 2h17,3min. A saída da penumbra será às 3h14,6min, quando ocorre o fim do eclipse.
O próximo eclipse total da Lua será visível no Brasil, ainda esse ano, na noite de 8/9 de novembro. O último eclipse total da Lua visível no Brasil ocorreu na noite de 20/21 de janeiro do ano 2000.
Ao contrário do que ocorre com os eclipses do Sol, cuja observação exige o uso de filtros especiais, o eclipse total da Lua pode ser observado a vista desarmada, sem nenhum risco, mesmo através de um binóculo ou telescópio.
O eclipse da Lua e o folclore
A Lua sempre exerceu um fascínio misterioso sobre o homem. Dos portugueses, negros e indígenas, nosso povo assimilou as mais variadas tradições sobre a Lua, que ainda perduram no interior do país. Assim diz o povo:
Mãe dos vegetais, a Lua protege o seu crescimento.
Cabelo cortado na lua nova, cresce logo, mas afina.
Negócio realizado na Lua crescente e negócio rapidamente desenvolvido.
E luar da Lua cheia e o melhor remédio para um amor infeliz…
Mas, de todas as crenças sobre a Lua, a mais difundidas em todo o mundo se referia ao eclipse: o obscurecimento temporário da Lua. Para muitos povos, sinal de infortúnios, desgraças e doenças.
Acontece às vezes que uma sombra invade lentamente o disco prateado da Lua cheia, fazendo desaparecer por uma hora ou mais a Lua do sol que a Lua reflete. Logo depois a sombra vai deixando o disco lunar, até que a rainha da noite retome o seu brilho habitual.
Este fenômeno e um eclipse, acontecimento que antigamente provocava enorme pavor e confusão. Muitas pessoas acreditavam que a Lua estava sendo atacada pelos maus espíritos ou por um enorme monstro, em forma de dragão. E para libertar a Lua, o povo organizava uma serie de rituais barulhentos para afugentar ou mesmo matar o dragão que queria destruí-la.
Acreditem ou não, isto aconteceu na capital do Pará, em 23 de agosto de 1887. Durante um eclipse da Lua, o povo saiu às ruas em enorme algazarra, disposto a assustar o monstro com o ruído de latas velhas, foguetes, e até tiros de revólver e espingarda…
Mas este costume e exclusive do folclore brasileiro. Pelo contrário. Era encontrado em todas as culturas primitivas: na China, na Índia, na África e nas América do Norte e do Sul. Mesmo no século XVII, na Franca, ainda era comum tal ocorrência. Basta lembrar a lenda mundialmente difundida de São Jorge na Lua em luta constante com o dragão.
Cassiano Ricardo, em seu poema “O dragão e a Lua”, descreve a participação popular na luta cosmológica do nosso satélite com o monstro devorador de estrelas.
Olha o dragão, que vai comer a Lua! Olha o dragão!
Todos vêm à janela, arrepiados de medo,
Ver o dragão que come estrelas na amplidão,
Como se triturasse uma porção de bolas de ouro
Dentre as negras mandíbulas de carvão.
Todos vêm ao quintal, à sombra do arvoredo,
Ver o dragão de dentes brancos lactescentes,
Que anda bebendo a noite em plena escuridão,
tendo um resto de luar a escorrer-lhe dos dentes
e uma nuvem rasgada e pender-lhe da mão.
E vai sumindo pouco a pouco e vai sumindo,
mais lindo do que nunca, o alvo corpo da Lua;
e uma mulher de prata, inteiramente nua,
que esta tremendo em vão nas garras do dragão.
Olha o dragão, que vai comer a Lua! Olha o dragão!
Começam a fazer um barulhão
Batendo em latas velhas e arrastando um caldeirão
Pra espantar o dragão!
Mas, no outro dia,
Passando o pesadelo que oprimia
O coração da boa gente do sertão,
Depois de haver caindo a chuva de janeiro
Um arco-íris coroa píncaros da serra
Como se engrinaldasse a fronte ao mundo inteiro
E como se abraçasse os dois lados da Terra!
E todo mundo diz, então:
Certo e o dragão que se mudou em sete cores
E esta bebendo a água do ribeirão!
Se, para a imaginação do povo, o eclipse é o dragão que devora a Lua, para os astrônomos este fenômeno tem explicação bem diferente: a sombra que se projeta sobre a Lua é a sombra da Terra. Sombra que cobre a superfície do nosso satélite fazendo desaparecer por algum tempo a luz do Sol que a Lua reflete.
Com o efeito, a sombra da Terra se estende no espaço até um milhão e meio de quilômetros. Como a Lua não se afasta mais de 412 mil quilômetros do nosso planeta, ocorre às vezes que ela encontra em seu caminho a sombra da Terra, ocultando-se, isto é, eclipsando-se. A este fenômeno chamamos eclipse da Lua.
Os Eclipses da Lua só se produzem durante a Lua cheia. É quando a Terra se encontra exatamente entre o Sol e Lua.
Se a Lua entra totalmente no cone da sombra e chamado total. Mas, se somente uma parte da superfície lunar passa pela sombra, o eclipse chama-se parcial.
Os eclipses parciais ou totais da Lua são fenômenos que auxiliaram bastante o desenvolvimento da ciência astronômica e mesmo da ciência em geral. Foi, por exemplo, observando um eclipse, que os primeiros astrônomos gregos concluíram que o nosso planeta e redondo, uma vez que a sombra projetada pela Terra na superfície da Lua apresenta um contorno nitidamente arredondado. Esta foi a primeira prova da redondeza da Terra.
Se você já observou um eclipse total da Lua, certamente verificou que, durante o tempo em que o nosso satélite fica encoberto, sua coloração torna-se avermelhada. Este fenômeno e produzido pela atmosfera terrestre. As altas camadas da Terra, colocadas entre o Sol e Lua, impedem a passagem quase toda a luz solar. Uma parte desta luz, entretanto é encurvada e dispersa pela travessia na atmosfera da Terra e atinge a Lua, produzindo a coloração avermelhada.
A previsão dos eclipses não e uma a conquista da astronomia moderna. Há muito tempo que os astrônomos conhecem a periodicidade destes fenômenos, podendo prevê-los com grande antecedência.
Estas previsões são de grande utilidade para os astrônomos e estudiosos em geral. E curiosamente serviram, também, ao navegante Cristóvão Colombo, descobridor da América.
Conta-se que Cristóvão Colombo teve certas dificuldades em obter alimentos e água com os indígenas, extrema ente necessários para a sua viagem de volta. Sabendo, pelos livros de um grande astrônomo, Abraham Bem Samuel Zacuto, que um eclipse lunar iria ocorrer exatamente naquela noite, Colombo ameaçou:
_ Ou vocês me fornecem o que desejo, ou apago a luz da Lua!
Podemos imaginar o fim da história… Logo que o eclipse começou, os indígenas, apavorados, apressaram-se a atender ao que Colombo pedira…
Em certos anos, ocorrem dois, ou mesmo três eclipses da Lua. Em outros, porém, nenhum. E isto tem uma explicação muito simples: a órbita ou o caminho da Lua em torno da Terra inclinada. Ora a Lua passa acima do cone de sombra, ora abaixo. Por isso na Lua cheia não ocorrem eclipses do Sol.
Atualmente, os astrônomos reconhecem muito bem o movimento lunar, de modo que podem prever o início de um grande eclipse com muitos anos de antecedência e com grande precisão.
Mas, mesmo assim o povo nosso bom povo de alma pura, como disse Cassiano Ricardo, ainda teme o eclipse, ou mais simplesmente o ecris ou a Lua Cris como o chama. E não deixa de ser poética a advertência folclórica de Câmara Cascudo:
“– No Lua Cris, meu fio, ninguém deve ficar durmindo….senão pode ficar durmindo pra sempre…”
Sem duvida, a advertência pode parecer uma ameaça, mas, na realidade, constitui um bom conselho para que não se venha perder um dos mais belos fenômenos cósmico. Aproveitemos a sugestão do folclore para continuarmos acordados, na noite de 15 para 16 de maio, para assistirmos o eclipse da Lua.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador-titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins, do qual foi o fundador e primeiro diretor. Autor de mais de 70 livros, entre outros, “O Livro de Ouro do Universo”.
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