A 15ª edição do maior festival de documentários do País, o “É Tudo Verdade”, que começa na quinta-feira em São Paulo e na sexta-feira no Rio, será marcada pelo trabalho de uma nova geração de documentaristas brasileiros. Só na competição nacional deste ano, 12 dos 21 filmes são de estreantes, contra 7 em 2009, 10 em 2008 e 7 em 2007. Boa parte das obras documentais ultrapassam o viés informativo ou didático, tão difundido no gênero. Os novos diretores tiveram o cuidado de reservar para a telona filmes que descortinam a História por meio de vivências e experiências de seus personagens.
Essa marca ficará evidente logo no filme de abertura em São Paulo, “Uma Noite em 67”, dirigido pelo publicitário Renato Terra e pelo jornalista Ricardo Calil – ambos estreantes na direção. O documentário, que teve origem em um trabalho de conclusão de curso de Renato, ainda na graduação em 2003, revive a final do 3º Festival de Música Popular, realizado em 1967 e que se transformou num marco cultural do País.
“O documentário precisava agarrar a experiência, não recontar a história daquele festival de música. Isso já existe em livros e no YouTube”, disse Renato. “Por isso, cortamos depoimentos de pessoas que não estiveram lá ou que só explicam o que foi o festival. Nós priorizamos imagens de arquivos e depoimentos com traços intimistas, de bastidores e de quem participou de verdade,” explicou. Quem assistir ao longa poderá ver, por exemplo, Gilberto Gil revelando o pavor de subir no palco naquela noite, ou ainda, o contexto da longa vaia que despertou a fúria de Sérgio Ricardo antes de estilhaçar seu violão diante da plateia.
Em outro documentário, “Karl Max Way”, a jornalista Flávia Guerra e o cineasta Maurício Osaki também priorizam a vivência de personagens para detalhar uma história maior: a dos brasileiros que trabalham como motoboys em Londres. O curta apresenta o cotidiano do brasileiro Karl Max (sem R mesmo) de Almeida Macedo, que se autodefine um capitalista, para contar as aventuras, realizações e tragédias de toda a categoria de imigrantes brasileiros ilegais que “dominam” o serviço de entregas sobre duas rodas na capital inglesa. De cada dez motoboys por lá, nove são brasileiros.
“Sempre que eu era quase atropelada por uma moto, percebia que o jeito e os palavrões do motoboy eram de brasileiros”, disse Flávia. Segundo ela, foi a partir dessas observações que teve a ideia de fazer o curta. “Antes eu planejava incluir uma série de depoimentos, mas depois encontrei o Max, que já é muito representativo,” contou.
Na opinião do coordenador do festival, Amir Labaki, a nova safra de documentaristas já está conquistando seu espaço e é capaz de expandir o universo audiovisual abarcado no “É Tudo Verdade”. “Um traço comum (da nova geração) é o distanciamento frente a tradição do documentarismo didático-informativo”, avaliou. “Parece uma geração que trabalha a partir de uma certa formação acumulada sobre a história do documentário e a reflexão recente sobre o gênero. O público pode esperar obras fortes e promissoras”, avalia Labaki.
Festival “É Tudo Verdade”
São Paulo, de 8 a 18 de abril
Rio, de 9 a 18 de abril
Confira a programação de filmes, salas e horários pelo site:
http://www.etudoverdade.com.br/2010/programacao/index.asp?lng=