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É Tudo Verdade começa hoje com um tributo a Adoniran Barbosa

Adoniran Barbosa em São Paulo, Hugo Carvana no Rio. Os retratos de cidadãos símbolos de suas cidades – dois grandes artistas – dá início à 23ª edição do É Tudo Verdade, o principal festival brasileiro de documentários, que ocorre simultaneamente na capital paulista e na fluminense. Em São Paulo, a mostra será inaugurada na noite desta quarta-feira , 11, no Auditório Ibirapuera com Adoniran – Meu Nome É João Rubinato, de Pedro Serrano. No dia seguinte, na Cinemateca do MAM, caberá a Carvana, de Lulu Corrêa, tributo ao ator e diretor Hugo Carvana (1937-2014), dar início à versão carioca do evento.

São perfis de artistas complexos, multifacetados, e que, de certa forma, ficaram presos aos clichês cômicos. No caso de Adoniran Barbosa (1910-1982), em particular, a imagem pública que ficou foi a de um sujeito muito engraçado, com seu chapeuzinho e gravata-borboleta, seu português italianado, cheio de “erros” de pronúncia e concordância. O esperto Adoniran, ícone do homem paulistano e, no entanto, nascido em Valinhos, tirava partido de sua graça natural e fazia dela um modo de vida.

Mas o documentário de Pedro Serrano nos mostra o tanto de profundidade de seus sambas apenas em aparência simples e que se assemelhavam a crônicas tristes do cotidiano. Adoniran tinha o olhar sempre voltado para as pessoas humildes e transcrevia seu sofrimento em seus versos. Andava pelos bairros humildes, entrava nas casas, conversava, bebia, e estabeleceu-se no Bexiga, bairro paradoxal de gente pobre encostado na opulência da Avenida Paulista.

Depoimentos de gente como o designer Elifas Andreato, o produtor Pelão e o músico Eduardo Gudin enriquecem o documentário. O filme traz muitas falas do próprio Adoniran, muita música e um inesquecível passeio do compositor pelo Bexiga, levando pelo braço ninguém menos que Elis Regina. Se Adoniran não ameniza a dureza de São Paulo, pelo menos permite compreendermos mais fundo suas melhores contradições.

Essas obras são pontos de partida para um festival que programou 55 filmes entre longas e curtas-metragens, brasileiros e vindos de outros países.

Muitos deles têm por tema o mal-estar num mundo marcado por conflitos e os brasileiros não são exceção. Auto de Resistência, por exemplo, fala do assassinato de jovens das periferias cariocas, mortos por policiais. Em O Processo, Maria Augusta Ramos acompanha os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff. Em Missão 115, Silvio Da-Rin lembra um caso do passado – a tentativa de atentado no Riocentro – para estender sua reflexão ao presente sobre a presença dos militares na política brasileira.

O pulso do mundo é tomado em filmes tão variados como Zaatari – Memórias do Labirinto, de Paschoal Samora, sobre o campo de refugiados na Jordânia, que abriga 80 mil sírios, e The Cleaners, debate sobre o controle da internet e o governo Trump.

A vertente histórica não parece menos atraente. Em Che, Memórias de Um Ano Secreto, Margarita Hernandez reconstrói os últimos passos da trajetória de Ernesto Guevara, nas guerrilhas fracassadas na África e na Bolívia. Em 1968, Patrick Rotman evoca o ano libertário na França que, neste regressivo 2018, completa meio século de vida e pede um balanço equidistante de reacionários e deslumbrados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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