Dzi Croquettes retorna ao palco

Bastou um grupo de 13 rapazes se juntar no Rio de Janeiro com uma nova proposta cênica para bagunçar os palcos do Brasil e da Europa. A época, década de 1970, não era propícia para liberalismos, mas o Dzi Croquettes, como passou a se chamar aquela turma liderada pelo bailarino americano Lennie Dale, trazia uma visão andrógina para as artes teatrais.

Remanescente daquele grupo, Ciro Barcelos, que tinha 17 anos quando foi convidado para integrar a formação original, em 1972, percebeu que aquela ousadia criativa não podia ficar circunscrita à memória. Assim, ele convocou outros oito rapazes para montar o espetáculo Dzi Croquettes em Bandália, que fica em cartaz apenas três dias (nesta sexta,1.º, a domingo, 3), no Teatro João Caetano.

O ponto de partida do espetáculo é o documentário Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, lançado em 2009. Em cena, os garotos assistem às cenas do filme e decidem tentar uma experiência como a dos Croquettes, depois do encontro com um remanescente (Barcelos, interpretando ele mesmo).

Para se ter uma ideia da importância dos Dzi Croquettes – que estreou em 1971, na boate Pujol, no Rio, no show comandado por Miele -, eles inspiraram os Secos e Molhados e até grupos internacionais (Liza Minnelli tornou-se fã confessa). Com suas piadas escrachadas, certamente podem ser anunciados como os verdadeiros pais do besteirol. E, numa época de forte repressão política e militar – durante a ditadura do presidente Médici -, eles eram, por si sós, uma afronta ao regime.

Na nova versão, como o momento é outro, o que vale é quebrar regras. Assim, com uma coreografia que traz passos inspirados em Lennie Dale, o grupo de musculosos enfrenta a missão de também exibir talento – e não apenas bíceps bem torneados. O resultado, como sempre acontece em sucessão de esquetes cômicos, é irregular, mas os pontos positivos garantem momentos especiais, dignos da primeira formação. É o caso de Cleiton Morais, em Repórter do Salto Agulha Roxo, que narra como uma Carmen Miranda desce de um disco voador em pleno Congresso Nacional.

Outra boa surpresa é a presença de Bruno Gissoni, ator mais conhecido pelas telenovelas (participou de Avenida Brasil e agora está no elenco de Babilônia). Para quem está acostumado a vê-lo na telinha com trajes masculinos, é uma surpresa acompanhá-lo no palco, incorporando uma entidade do candomblé, usando roupas femininas e um tapa-sexo.

Equilibrando-se em um salto de 20 cm, o próprio ator se maquia e interpreta dois papéis: o Zé Pilintra, o mestre de cerimônias, e a repórter Bruna. Ele foi convidado para integrar o elenco depois que Ciro Barcelos o viu como jurado no quadro Dança dos Famosos, no programa do Faustão.

Barcelos, aliás, conta com a cumplicidade de outros dois remanescentes do grupo original do Dzi – Claudio Tovar assina os figurinos e, em participação especial, Bayard Tonelli interpretando o poema Borboletas Também Sangram, de sua autoria.

“Surgimos nos anos 1970 com inspiração no Bloco das Piranhas, do Rio (no qual homens se vestem de mulheres). Elaboramos uma linguagem cênica não só no modo de se vestir e maquiar, mas de interpretação. Não se trata de caricaturar a mulher, mas de trabalhar com o feminino de cada um”, explica Ciro, em depoimento à revista Quem.

Ele garante não ter a pretensão de refazer o célebre Dzi. “Aqui, é outro espetáculo, outro texto, outras coreografias, com o espírito Dzi. Não estou preocupado com quem assistiu e vai comparar, e sim com as novas gerações”, disse ao Estado, quando a peça estreou no Rio, em 2012. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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