O quê, ele de novo? Você já parou para contar quantos filmes de Dwayne Johnson estrearam nos últimos tempos? No ano passado, ele integrou o elenco da bilionária franquia “Velozes e Furiosos”, tendo participação importante no oitavo título da série. Também emprestou a voz ao guerreiro de “Moana – Um Mar de Aventuras”. Depois disso, emendou – “Baywatch – S.O.S. Malibu”, “Jumanji – Bem-Vindo à Selva”, “Rampage – Destruição Total” e, agora, “Arranha-Céu – Coragem sem Limite”. Filho de pai negro e mãe original de Samoa, Dwayne, ex-The Rock, foi jogador de futebol e lutador antes de virar ator e ocupar o lugar que Arnold Schwarzenegger está deixando vago, seja pela política ou pela idade.
O ex-Mr. Universo Schwarzenegger esculpiu seu corpo no fisiculturismo. Dwayne Johnson pode até ter frequentado academias, mas gosta de dizer que não foi preciso modelar nada porque o físico poderoso que o levou a ser chamado de The Rock, A Rocha, está no DNA. Seu pai foi um famoso astro de “wrestler”, a luta livre. A mãe pertencia à linhagem tribal de Samoa e o garoto, Dwayne Douglas – ele abandonou depois o segundo nome -, criou-se na natureza. Num período relativamente curto – seu primeiro crédito data de 1996 -, ele chegou ao expressivo número de 116 filmes para cinema e televisão. Mas foi somente agora que chegou ao topo. A mais nova listagem da revista Forbes coloca Dwayne Johnson entre os astros mais rentáveis de Hollywood, com Chris Pratt e a Mulher Maravilha Gal Gadot, todos eles atrás do atual número 1, Vin Diesel.
Se você acha que, com tantos filmes estreando, Dwayne deveria fazer uma parada para descansar seu público, desista. Ele completou uma comédia, “Fighting with the Family”, Brigando com a Família, está filmando “Jungle Cruise”, tem quatro filmes em pré-produção, incluindo “Jumanji 2” (sim!), e outros quatro anunciados. Entre esses estão “San Andreas 2”, a sequência de “Terremoto – A Falha de San Andreas”, e o remake de “Os Aventureiros do Barro Proibido”, de John Carpenter, com Kurt Russell, de 1986. Desse jeito, com tantos filmes e, possivelmente, tantos sucessos, daqui a pouco vai ficar difícil, senão impossível, seguir a carreira de Dwayne Johnson. E tem mais – num encontro recente com Tom Cruise, ambos manifestaram o desejo de fazer um filme juntos. Considerando-se a agenda de Dwayne, será coisa para 2022 ou 23, depois da próxima Copa (no Catar).
Mas o tema é “Arranha-Céu”. Como no cinemão tudo se recicla, é fácil, para qualquer cinéfilo, dizer que o longa de Rawson Marshall Thurber é uma mistura de “Duro de Matar”, o original de 1988, de John McTiernan, que transformou Bruce Willis em superastro – o filme está completando 30 anos; foi lançado globalmente em 22 de dezembro daquele ano -, com outro blockbuster um pouco mais antigo, “Inferno na Torre”, de John Guillermin, com Paul Newman e Steve McQueen, de 1974, no auge dos disaster movies. Um agente de segurança com um trauma no passado e cuja mulher e filhos ficam presos numa torre ocupada por criminosos, como em Duro de Matar, e, para complicar, os bad guys colocam fogo no prédio, criando o inferno. Só mesmo um duro para sobreviver a tantos contratempos. Mas, espere, Dwayne não está sozinho na empreitada. Na ficção de Marshall Thurber, Dwayne chama-se Will Sawyer e, enquanto luta numa ponta, sua mulher luta em outra, para preservar as crias do casal.
Ela se chama Sarah Sawyer, é interpretada por Neve Campbell e, de novo, o cinéfilo pode dizer “Captei!”. Neve sobreviveu na sangueira da série “Pânico”. Não há de ser aqui que será sacrificada, até porque é boa de briga e despeja patadas, quando necessário. Só que não é esse o aspecto mais interessante de “Arranha-Céu”. Em 1974, com “Inferno na Torre”, os EUA estavam em plena crise de Watergate e a ficção de Guillermin possuía todos os elementos subliminares para fazer o público voltar a acreditar nas instituições. Em “Duro de Matar”, 14 anos mais tarde, o mundo vivia o processo de “glasnost”, o Muro de Berlim cairia no ano seguinte e os EUA se consolidariam como “a” potência mundial (acossados pela China). Nesse quadro, surpreende que o prédio do “inferno” esteja em Los Angeles, que abriga Hollywood. Portanto – na capital do sonho.
Nesses 30 anos – desde “Duro de Matar” -, o desenho geopolítico do mundo mudou muito. Marshall Thurber sabe disso e finca os alicerces de seu arranha-céu – o maior prédio do mundo – em Hong Kong. Sinal dos tempos – o prédio é todo computadorizado e até a multidão que segue os esforços de “Will” para entrar no prédio documenta todas as ações nas redes sociais. Twitter, Facebook, vale tudo. O filme, portanto, não é tão inocente assim e engloba protocolos nada secretos que dizem respeito às questões de segurança no mundo futurista. Sendo esse o foco, fica irrelevante se as ações de Will Sawyer desafiam as leis da física ou da química. O próprio Alfred Hitchcock, que está sendo homenageado com uma megaexposição no MIS, Museu da Imagem e do Som, lixava-se para a verossimilhança em seus magníficos suspenses.
Só uma vez Hitchcock levou a questão a sério e fez um filme totalmente realista – “A Sombra de Uma Dúvida”, de 1943. Apesar dos elogios da crítica, não era um de seus preferidos. Ele se sentiu tolhido na sua criatividade. Encerrada a questão, “Arranha-Céu” é um filmaço de ação. Família, segurança, avanços tecnológicos, pancadaria, romance, uma pitada de feminismo (as mulheres são de “faca na bota”), outra de humor. O filme tem tudo. Não sendo um filme de super-heróis (o herói tem perna mecânica!), é melhor que o capenga “Homem-Formiga e a Vespa”, embora a última palavra seja do público. Foi ótimo, para o repórter, ter visto “Arranha-Céu” num cinema popular do Centro, como o Marabá. O diretor veio da comédia. Fez “Uma Família do Bagulho”, com Jennifer Aniston como stripper contratada para fingir que é mãe dedicada numa falsa família, e “Com a Bola Toda”, em que Ben Stiller e Vince Vaughn tentam salvar sua academia, e contam com a ajuda de amigos – a família escolhida? Dessa vez a família é de verdade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.