DVDs mostram obra de Zé do Caixão, mestre do cinema trash

Ele não é uma unanimidade, mas desde que Glauber Rocha chamou José Mojica Marins de gênio, nos anos 1960, sempre houve um tititi em torno do criador de Zé do Caixão. O mito consolidou-se quando os americanos transformaram o personagem em Coffin Joe.

Os vídeos de Zé do Caixão lhe valeram não poucos admiradores nos EUA, entre eles diretores como Tim Burton e Joe Dante. A distribuidora Cine Magia promove agora o lançamento de uma caixa com seis DVDs apresentando as criações mais famosas de Marins.

São títulos como À Meia-Noite Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, O Estranho Mundo de Zé do Caixão, Ritual de Sádicos/O Despertar da Besta, Finis Hominis e Delírios de um Anormal.

Os DVDs são carregados de extras: trailers, curiosidades, entrevistas com o diretor e seus colaboradores (atores e técnicos). Depois disso, só lendo Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o mix de biografia e análise crítica dos filmes que os jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti dedicaram ao autor, há cinco anos. Aí, sim, você poderá dizer que está formado em Zé do Caixão.

Justamente, Coffin Joe. É curioso como o personagem que surgiu em 1963, no filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma, marcou a carreira do ator e diretor. Na verdade, Zé do Caixão aparece apenas em seis dos muitos filmes que ele fez. Mas foi com esse personagem que Marins alcançou o sucesso popular, principalmente com Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, que o biógrafo Barcinski garante ser um dos dez filmes mais vistos da história do cinema brasileiro (pelo menos garantia, em 1997).

A fama de maldito vem do tipo de filmes que ele faz, do personagem que criou, mas também dos problemas com a censura do regime militar, que nunca engoliu o desrespeito do autor em relação a valores familiares e religiosos.

Barcinski e Finotti são capazes de jurar que Marins é um grande diretor, principalmente um grande experimentador da linguagem. É curioso assinalar que quando Marins surge no cinema brasileiro o capítulo da Vera Cruz está mais do que encerrado em São Paulo e quem dita as regras estéticas no País é a turma do Cinema Novo.

Neste contexto, surge Zé do Caixão, um anti-herói, espécie de anti-Cristo que busca a mulher ideal para com ela conceber o Super-Homem. Com À Meia-Noite e Esta Noite, o ator e diretor firmou-se como uma espécie de patrimônio brasileiro da crueldade. Na verdade, sempre um patrimônio universal, como prova o sucesso de seus filmes – experimentais ou naifys? – no exterior.

Além da consagração nos EUA, junto a autores de prestígio, ele também recebeu homenagens em festivais como os de Rimini, na cidade em que Federico Fellini nasceu (na Itália), Stiges (na Espanha) e Roterdã (na Holanda). No Brasil, os problemas de censura começam comRitual de Sádicos, em 1968, com sua tríade sexo-morte-fantasia. Dez anos mais tarde, Marins retoma temas, situações e até cenas desse filme em Delírios de um Anormal, verdadeira colcha de retalhos que não deixa, mesmo assim, de ser curiosa como exposição do inferno, segundo Mojica (como muitos preferem chamá-lo, talvez porque inferno “mojicano” fica mais sonoro).

Em Delírios de um Anormal, Marins já tinha uma consciência maior de si mesmo, do seu estilo. E concebeu a história do psiquiatra tão fascinado por Zé do Caixão que sonha que ele não apenas é real como quer tomar-lhe a mulher. E dê-lhe sexo, caos e crueldade, as representações do inferno mojicano.

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