Pode parecer um clichê, mas a cidade de São Paulo é sem dúvida um dos protagonistas do mais recente filme do diretor Toni Venturi, “Estamos Juntos”. Fosse em outro lugar, sem a interferência de sentimentos tão comuns nas metrópoles como solidão e individualismo, a história da jovem médica Carmem (Leandra Leal), de seu amigo DJ Murilo (Cauã Reymond) e do músico argentino Juan (Nazareno Casero) poderia tomar outros rumos.
“Eu queria fazer um filme sobre a minha cidade”, conta o paulistano Venturi, que já teve São Paulo como cenário em “Cabra Cega” (2005), mas com a trama vivida na época da ditadura militar. Agora, ele quis mostrar como é estar junto nesta grande cidade sendo jovem, buscando o seu jeito de ser feliz, mas tendo de encarar a mortalidade e reconhecer a importância da vida. A produção estreia hoje, em São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Goiânia, Recife, Salvador e Brasília.
Vinda do interior do Rio de Janeiro, Carmem é uma médica residente de um hospital público na capital paulista, faz o que gosta, aproveita para curtir a cidade na companhia do amigo conterrâneo Murilo e se envolve com um músico da banda do DJ, Juan. Ao começar a sentir sintomas de uma grave doença, a reação de Carmem com a situação abala seus relacionamentos e afeta a promissora vida profissional que se iniciara.
Fechada em si com seus problemas, a jovem médica encontra como confidente o misterioso personagem interpretado pelo ator Lee Taylor. Ainda que relate uma situação dramática, Venturi considera seu filme como “solar”. “Não é a utilização da doença para fazer uma coisa pesadona”, justifica. “Gosto que na construção desse roteiro permita se fazer várias leituras, depende de cada espectador.”
No início de maio, “Estamos Juntos” saiu da 15.ª edição do Festival PE (Festival do Audiovisual de Recife) com sete prêmios Calango, incluindo os de melhor filme, prêmio da crítica, melhor diretor, melhor roteiro (Hilton Lacerda) e melhor atriz para Leandra Leal.
Vigor – Para conseguir o vigor que queria no filme, o diretor destaca a preparação dos atores, com intenso trabalho de ensaios, improvisos e vivências. Leandra leal, por exemplo, acompanhou a rotina dos residentes do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Já Cauã Reymond, que interpreta um personagem homossexual, fez laboratório em clubes gays. “Eu queria um filme vivo e para isso eu precisava de que os jovens (do elenco) estivessem envolvidos nisso”, diz Venturi.
A presença de um ator argentino para ser um dos protagonistas foi uma das condições para o filme participar do programa de coprodução Ibermedia. Após diversos testes, o escolhido foi o ator Nazareno Casero, descoberto pelo diretor no filme “Crônica de uma Fuga”.
Além de mostrar o drama individual vivido por jovens de classe média, Venturi insere na história o drama coletivo de pessoas que fazem parte do movimento dos sem teto do centro de São Paulo. Levada pela colega médica interpretada pela atriz Débora Duboc para ser voluntária em um edifício ocupado, Carmem conhece a líder do movimento Leonora (Dira Paes) e se envolve com a situação dos moradores.
Para compor a personagem, Dira também passou por um trabalho de preparação, convivendo com os sem teto, que também atuaram no filme. Nas cenas de ocupação – ou festa, como é chamada pelo movimento – de um prédio no centro da cidade, Venturi misturou imagens reais filmadas por ele em 2004 para o documentário “Dia de Festa” e outras que foram dramatizadas. “Foi uma experiência muito marcante e por isso quis trazê-la para a ficção”, conta o diretor.
Estamos Juntos
Direção: Toni Venturi
Gênero: Drama (Brasil/2011, 111 minutos)
Censura: 10 anos
