Otávio Müller parece bem tranqüilo, apesar da intensa correria das gravações nas últimas semanas. O ator, que há dois anos vive o desleixado e ébrio Horácio no dominical Sob nova direção, na Globo, agora se divide entre as gravações do semanal e de Os amadores, especial de fim de ano da emissora, que vai ao ar no dia 27 de dezembro. Isso sem falar que Otávio também está escalado para viver o autoritário Coronel Fialho na minissérie JK, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, com estréia prevista para o dia 3 de janeiro. ?Estou muito atarefado, gravando sem parar. Mas vários projetos ao mesmo tempo são sempre bem-vindos. Prefiro que seja assim do que um por vez?, garante, com a habitual voz plácida, que contrasta com os gestos inquietos.

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Não só o gestual, mas o modo de ser do ator acaba transparecendo uma comicidade que tem sido cada vez mais explicitada na pele de Horácio. Acostumado com o formato descontraído do programa, bem parecido com Os normais e A grande família -onde já fez participações -, Otávio não esconde o quanto anda empolgado com a atual fase de personagens com nuances cômicas, como o Tadeu, do especial Os amadores. Viúvo e pai de dois filhos, o personagem suburbano é um dos quatro protagonistas do especial, que conta ainda com Matheus Nachtergaele, Murilo Benício e Cássio Gabus Mendes. ?Ele é cafoninha, caretinha e tímido. Não chega a ser totalmente engraçado, mas é uma pessoa que destoa do mundo?, analisa.

P – Você faz o Horácio há dois anos e talvez o Sob nova direção continue na grade em 2006. Como renovar um personagem para manter o fôlego por tanto tempo?

R – Me renovo sempre pelo texto. Às vezes ele tem um destaque maior num episódio e isso é importante para segurar um programa. Pois não dá para ficar em cima das protagonistas o tempo todo. Acho que mudanças são sempre válidas. É bom dar uma balançada em tudo.

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P – Que mudanças você destacaria nessa fase?

R – O programa amadureceu muito este ano. O Horácio não mudou muito desde o início, mas eu estou mais à vontade com o personagem. Isso só o tempo traz e é o grande barato dos programas que estão no ar há tempos, como A grande família. Eu me divirto muito vendo o Pedro Cardoso como Agostinho. Isso é resultado da intimidade com o personagem.

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P – Que caminho você utilizou na construção do Tadeu em Os amadores ?

R – Ele é uma roupa nova para mim, uma oportunidade de ser um dos protagonistas nesse formato. O Tadeu é um cara simplório e com mil facetas. É um cara ?gauche? e emocional. Apesar da correria deu para compor porque não faço o personagem sozinho. A figurinista e o cabeleireiro foram fundamentais. Como estou ficando careca, ele puxa meu cabelo de um lado por cima da cabeça. Isso me ajudou a encontrar o Tadeu. É um mosaico de colaborações.

P – Qual sua análise sobre o formato desses especiais de fim de ano?

R – É sempre uma grande correria, mas dá certo porque as equipes são bem entrosadas e ninguém faz seu trabalho sozinho. Tem também aquela torcida para emplacar na grade no ano seguinte. Com a direção do José Alvarenga Jr. é tudo redondo porque ele faz tudo com a mesma equipe desde Os normais e tem todo um preparo para cada programa. Acho importante que os especiais gerem programas semanais porque este formato está dando muito certo.

P – Desde Os Maias você não fez trabalhos de época na tevê que necessitassem de uma preparação mais apurada. Quanto o Coronel Fialho de JK tem exigido de você?

R – Eu não tenho métodos. Meu aprendizado é errando e acertando. Ele é um típico coronel nordestino. É um dos caras que mandam no Nordeste, mas que é um subversivo e contra JK. Quando tenho tempo, gosto de mergulhar no universo da História para compor, mas não acho que a gente dependa dessas coisas.

Às vezes é até bom ter uma visão virgem das coisas nesse caso porque este coronel é fictício, não existiu de fato. Mas quero passar a sensação da representação desse ranço arcaico do autoritarismo que se perpetua até hoje.