Dos males de ser menor

O telespectador infantil está abandonado pela maioria das emissoras brasileiras de canais abertos. São raros os programas dedicados exclusivamente às crianças com real valor recreativo-educacional. Hoje em dia, quem tem menos de 10 anos está esquecido.

O caso se complica ainda mais se levar em consideração a parcela de crianças brasileiras, a maioria delas sem acesso a canais a cabo e que só conta com a rasa programação das emissoras abertas para assistir. Neste caso, é nítido o verdadeiro “beco sem saída” em que se encontram as crianças que estão à margem de uma programação que só pensa no ibope fácil. É uma espécie de corrente. Como os programas infantis não dão mais tanta audiência e os espectadores infantis mais endinheirados migraram para a tevê a cabo, simplesmente optou-se por investir em programas femininos, policialescos ou de fofoca.

Tanto é que Rede TV! e Band, por exemplo, não contam mais com produções infantis próprias. Ambas exibem, no máximo, pequenas produções terceirizadas. O próprio SBT, apesar de manter a lourinha Jackeline Petkovic à frente do “Bom Dia & Cia”, tornou-se uma emissora que só transmite desenhos antigos, e reprises como “Chaves” e dramalhões infanto-juvenis muito inferiores a “Chiquititas”. Por enquanto, apenas TV Cultura/Rede Brasil, Globo e Record trazem alguma opção à criançada. Mesmo assim, são casos isolados. Uma das poucas “vozes no deserto” é a apresentadora Eliana, da Record. Ela mantém o espírito educativo no “Eliana & Alegria” e é um verdadeiro “oásis vespertino” para o telespectador-mirim.

Na verdade, o “Eliana & Alegria” é a única opção para as crianças na parte da tarde, tirando algum filme pertinente exibido na “Sessão da Tarde”, da Globo, ou as reprises das produções da TV Cultura, como o mediano “Ilha Rá-tim-bum”. Fora isso, a criançada tem de conviver com programas nada apropriados, como o “Repórter Cidadão”, da Rede TV!, “Falando Francamente”, do SBT, “Hora da Verdade”, da Band, e o próprio “Cidade Alerta”, da mesma Record de Eliana. É comum estes programas exibirem fotos de mulheres seminuas, casos de homossexualismo, manchetes como “bebê de dois meses é jogado do 5º andar” ou perseguições policiais. Não é à toa que Eliana chega a dar mais de 10 pontos de audiência depois que o “Eliana & Alegria” foi transferido da manhã para a tarde.

Justiça seja feita que a apresentadora da Record foi a única do gênero que manteve o mesmo perfil desde a sua estréia na televisão. Ela apresenta quadros e brincadeiras pouco excludentes, como pintar as unhas de uma maneira diferente, produzir bonecos com material reciclado ou inventar brinquedos com sucatas. Justamente o tipo de coisa que a criança que não tem tevê a cabo precisa e que não vai causar qualquer tipo de “trauma” se ela quiser um brinquedo da moda e a família não tiver condições de comprar. O “Eliana & Alegria” é realmente uma exceção neste sentido.

A própria Globo, durante a semana, só tem espaço para a “gurizada” entre as 9h30 e 11h30 da manhã. É quando exibe o “TV Globinho”, que praticamente só exibe desenhos, e o “remake” de “Sítio do Pica-pau Amarelo”, que dura menos de 30 minutos. Fora isso, somente o fraco “A Turma do Didi”, aos domingos, e nada mais. O que fica evidente é a falta de algo novo e realmente original para o público infantil. Mesmo “O Sítio do Pica-pau Amarelo”, o “Eliana & Alegria” e o “Ilha Rá-tim-bum” -atualmente o que de existe de melhor para a criançada na tevê aberta – são baseados em idéias antigas. O pior é que o retorno de Xuxa Meneghel no final de outubro para a Globo com o seu novo programa infantil não é nada animador. A apresentadora não tem nada de original e muito menos de educativa. Para os telespectadores infantis, o que resta é eleger novos ídolos na medida do possível. Nem que seja o vampirão Bóris de “O Beijo do Vampiro”, a nova novela das sete da Globo.

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