Atraente, vestida com roupas coloridas e pronta para o encontro, que pode originar grandes amores ou grandes dores, ela está sempre esperando seus visitantes para lhes oferecer múltiplas possibilidades. Pode enriquecer e alegrar alguém ou decepcioná-lo, proporcionar-lhe negociações, entretenimento, encontros, cultura, crimes, música e lazer. Seu nome é internet.
Em 2001, a internet brasileira tinha 16 milhões de usuários. Terá 34 milhões em 2006. Isso quer dizer que a penetração da internet será de 18% (Villari, 2001). Para o diretor executivo do CDI – Comitê pela Democratização da Informática de São Paulo, Rodrigo Baggio (2002), o acesso à internet ainda é difícil. Mesmo tendo sido registrado crescimento considerável em 2001, somente 13 milhões dos 170 milhões de brasileiros têm acesso à internet em suas casas, enquanto nos Estados Unidos mais da metade dos habitantes têm essa possibilidade, ou seja, ainda há grande número de excluídos.
Ela abriga a concentração de oportunidades financeiras. O publicitário e presidente da Dainet Multimídia e da Associação de Mídia Interativa (AMI), Antônio Rosa Neto, comenta que o balanço dos investimentos em propaganda, divulgado pelo jornal Meio & Mensagem, indica, nos 12 meses de 2001, que a internet recebeu investimentos da ordem de R$ 225 milhões, o que foi além dos investimentos aplicados na mídia exterior (R$ 203 milhões) e TV por assinatura (R$ 143 milhões).
As grandes empresas têm maiores chances de sucesso, embora todas as demais possam anunciar. No setor bancário, conforme dados divulgados pelo estudo Uso da web nos serviços financeiros, realizado pelo Centro de Excelência Bancária da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), só 81 bancos do total de 192 (42% do total) tinham sites na internet em 2000. Desses, apenas 49% contavam com serviço de internet banking, permitindo acesso a informações e conta corrente. As 81 instituições financeiras com sites na Web representam 90% dos ativos do setor, quee atingiu 842 bilhões de reais em 2000.
Quanto ao utilizador da internet, a segurança dos dados pessoais e da liberação do número de cartão de crédito para compras já não é tão apregoada atualmente. Embora muitos consumidores tenham bons resultados ao realizar suas compras on line, outros têm experiências amargas: a entrega não é realizada no prazo solicitado, a mercadoria chega trocada e o atendimento às reclamações dos usuários não são é satisfatório.
Pela internet correm boas e más notícias. Aliás, ela contém todo tipo de dados que alguém quiser pesquisar. Adultos e crianças podem entender sua linguagem e se enriquecer com ela. Na hora do sufoco, ela está lá, dia e noite para atender. Inclusive, algumas pessoas já a proclamaram deusa de todas as necessidades ao seguirem as pistas traçadas pela ideologia neoliberal que fez do mercado seu deus.
Mas é importante não esquecer que ao lado das vantagens sempre há cuidados a se tomar, pois, como diz Santos (2001), o internauta é espionado o tempo todo. Só pelo fato de alguém visitar um site, ele já está sendo visto, pelos seguintes motivos: os banners de publicidade que aparecem em sites são irritantes em muitos casos. Basta simplesmente sua exibição automática para despoletar a transferência de pedaços de informação pessoal, que podem mais tarde ser unidos por um identificador único e as informações ser cruzadas com outras bases de dados. Inclusive, algumas das empresas de comércio eletrônico que faliram estão vendendo suas bases de dados de clientes, objetivando apurar dinheiro para o pagamento das contas, ou seja, os dados pessoais de usuários da internet correm riscos.
Enquanto em seu contexto muitos cometem crimes, programam seqüestros, realizam tráfico de crianças, e outros programam o voluntariado social, existem aqueles que nem a conhecem. Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, somente 300 têm infra-estrutura para prover acesso local à internet (Baggio, 2002). A exclusão digital não é a única. Ela é o reflexo de outras exclusões, pois conforme os dados oficiais do IBGE, mais de 60% dos brasileiros têm sete anos ou menos de escolaridade e 62% não têm linha telefônica, infra-estrutura necessária para o mais simples acesso à internet.
Como grandes amores, dores e paixões estão presentes nos meios virtuais e não-virtuais, talvez fosse importante lembrar que os amores só serão preservados se as dores forem tratadas, pois não há o mundo dos amores separado do mundo das dores, mas um mundo só. Como as bactérias não escolhem pobres ou ricos para resistir aos medicamentos, e todos correm perigo, assim também é a exclusão. Embora pareça alcançar os que têm menos condições sociais, é um mal que atinge toda a humanidade e corrói a solidariedade universal. Por isso, seguindo o pensamento de Teilhard de Chardin, urge que cada indivíduo descubra apaixonadamente o fogo, não da civilização, mas do amor. Incluir alguém é mais que ajudar o outro, é cuidar de si.
Zélia Maria Bonamigo
é pesquisadora e especialista em Magistério superior e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail: zeliabonamigo@uol.com.br