O que se espera de um show quando o nome é o de Dona Ivone Lara? Aos 89 anos, a carioca mostra porque é considerada a primeira dama do samba: as suas melodias estão gravadas no inconsciente coletivo e integram o rol dos maiores clássicos do nosso cancioneiro brasileiro. A essas competências, somam-se muitas outras.

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Canto de rainha, lançado em CD e DVD como homenagem aos 62 anos de carreira , será apresentado ao público de Curitiba hoje no Teatro Guaíra, com a abertura por conta do grupo Serenô. O evento faz parte do projeto Quadra Cultural, idealizado por Arlindo Ventura, proprietário do Torto Bar.

“Pra mim foi uma surpresa muito grande. Não esperava gravar mais nada depois de tanto tempo de dedicação à música”, diz a cantora. Dona Ivone fez questão de reunir os amigos mais antigos e os mais presentes em sua trajetória no primeiro DVD de sua carreira. São nomes de peso como Caetano Veloso, Beth Carvalho, Délcio Carvalho, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Gilberto Gil e Zeca Pagodinho.

Mesmo com o cansaço da viagem, Dona Ivone se anima ao lembrar de situações que viveu durante os anos de trabalho. De Curitiba, ela gosta e conta uma das recordações que teve de suas passagens por aqui.

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“A melhor coisa pra mim foi descobrir que Curitiba gosta de samba. Estive aqui para o Projeto Pixinguinha (em 1987) e, naquela época, o samba não era tão popular quanto é hoje. Mesmo assim as pessoas cantavam e se entusiasmavam muito”.

Depois de movimentar a Rua Paula Gomes, em frente ao Torto, Arlindo pretende divulgar a obra da sambista para quem ainda não a conhece. “No Brasil temos a tendência em valorizar o artista depois que ele se vai. Temos que aproveitar para fazer isso agora”.

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Dona Ivone tem uma longa história na música brasileira: foi ela a primeira mulher a assinar um samba-enredo: Os cinco bailes da história do Rio, parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau, que a Império Serrano levou à Avenida em 1965.

Entre tantos outros, é autora de versos como Sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe, sonho meu e Saudade amor, que saudade, que me vira pelo avesso, e revira meu avesso.

A primeira com Delcio Carvalho e a segunda uma parceria com Hermínio Bello de Carvalho. E de onde vêm inspiração para tantos anos compondo? “Tenho muitos amigos e é para eles que eu faço os versos”.

História

Os primeiros contatos com a música aconteceram na infância, quando Dona Ivone experimentou o encontro entre popular e erudito que daria linhas particulares à música brasileira.

Vinda de uma família de amantes do samba – a mãe desfilava em blocos carnavalescos e o pai tocava violão de 7 cordas – ainda menina, ela estudou canto no internato público, onde viveu dos dez anos até a maioridade.

Lá, ela estudou com a primeira esposa de Villa-Lobos, Lucila Guimarães, e chegou a cantar sob a regência do maestro. Aos 12 anos, compôs o primeiro samba, Tiê, tiê, música que permaneceu fazendo parte do seu repertório.

Na Império Serrano ela descobriu afinidades que culminaram em uma ligação íntima com a verde e branco de Madureira, escola onde desfila na Ala das Baianas até hoje, além de ser madrinha da Ala dos Compositores.

Dona Ivone prefere fazer uma coisa de cada vez: ela esperou a aposentadoria da profissão de enfermeira, que lhe garantia a estabilidade financeira, para se dedicar integralmente ao ofício musical. Ela chegou a trabalhar ao lado da Dra. Nilse da Silveira na aplicação de terapias que revolucionaram o tratamento psiquiátrico nos anos 1970.

O primeiro disco foi uma coletânea com Clementina de Oliveira e Roberto Ribeiro, lançado em 1970. Neste mesmo ano ela ganhou o nome que a consagraria: a então Yvonne Lara abriu alas para Dona Ivone Lara.

A lista de intérpretes que gravaram composições da sambista é enorme e inclui nomes de peso como Clara Nunes e Roberto Ribeiro (Alvorecer), o trio Maria Beth,ânia, Ceatano Veloso e Gilberto Gil (Alguém me avisou), Paulinho da Viola (Mas quem disse que eu te esqueço, com Hermínio Bello de Carvalho) e Beth Carvalho (Força da imaginação, com Caetano Veloso).

Serviço

Dona Ivone Lara em Curitiba.Hoje, às 21h, no Teatro Guaíra (Rua XV de Novembro, 971, Centro). Ingressos:Plateia: R$ 80,00. 1.º Balcão: R$ 60,00. 2.º Balcão: R$ 50,00.