Em “Todo Mundo Tem Problemas Sexuais”, seu filme mais recente, derivado da peça homônima, Domingos Oliveira tenta aliar as experiências cinematográfica e teatral. Em “Turbilhão”, a comédia que estreou na última quinta-feira no Sesc Ginástico, no centro do Rio, a narrativa é ajudada pelo que se vê na tela de 3,7 metros de altura por 7 de comprimento instalada no fundo do palco – maior do que a de alguns pequenos cinemas cariocas.

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Em certos momentos, a ação se inicia na tela e continua no palco; noutros, o espectador é apresentado a personagens que não aparecerão em carne e osso. Vez ou outra a cena também serve de cenário. As imagens são muito mais do que projeções, em voga hoje como recurso muito mais plástico do que estruturante. Domingos chama a empreitada de “teatrocine”.

“É meio peça, meio cinema. Quase metade está na tela, são 35, 40 minutos de filmagem (com narração de Paulo José), numa peça de 1h30. Que, aliás, é a duração de um filme”, Domingos explicava na antevéspera da estreia. “O cinema, perto do teatro, é brincadeira. Quando a cena está chata, você pode sempre cortar para uma paisagem. No teatro, não. O ator chega ao proscênio e diz ‘estamos em Marte’ e ele está em Marte. O cinema sempre perde a parada, a presença do ator é muito mais forte do que qualquer coisa. São quatro mil anos”, diz o dramaturgo, diretor e ator, em sua 57ª peça (filmes são 14; em setembro, serão 75 anos).

Luana Piovani – que vem de três peças infantis e do sucesso da versão televisiva de “Mulher Invisível” – e Jonas Bloch – de férias na Record – vivem dois personagens cada. Ela é Inês, a psicanalista que há três anos só se dedica ao trabalho, mas que subitamente se apaixona ao mesmo tempo por Bento e Fabio, pai e filho. É também Alice, a mulher já falecida do primeiro, mãe do segundo. Jonas é Bento, um pianista que ela conhece na noite, e é também o falecido pai de Inês, que é quem mexe seus pauzinhos no além para que a moça vença as barreiras que a impedem de amar.

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Às voltas com as conversas com uma amiga de todas as horas, uma cantora decadente, (Duaia Assumpção, a atuação mais saudada da peça), e também nas sessões de dois pacientes constantes, Inês quer os dois, em dias alternados (com folga aos domingos). Diz a um paciente que “viver é escolher”, mas não consegue seguir a premissa. Resta a ela buscar a sabedoria de Sikamov, seu supervisor, interpretado pelo próprio Domingos. “A felicidade é uma ideia que o homem inventou para enlouquecer”, ensina ele. A plateia ri das confusões e se deixa tocar pelas tiradas inesperadas do texto.

“Não é à toa que ele é chamado de Woody Allen brasileiro”, cita Bloch, ao comentar a trama. “A linguagem é muito própria e leve. A gente se sente parte de uma obra em progresso, ele vai adaptando o espetáculo conforme vai sentindo os atores. Domingos não tem recebido o suporte que merece dos patrocínios, merecia mais consideração.” As quatro semanas no Sesc Ginástico foram possíveis graças aos R$ 200 mil do Prêmio Sesc Rio de Fomento à Cultura, vencido na categoria “teatro adulto” ano passado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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