As músicas foram se conectando, uma a uma, como trechos do roteiro de um mesmo filme. Mas a pequena obra-prima dirigida pelo músico carioca Domenico Lancellotti, 38 anos, não tinha um plano panorâmico ou uma tomada mais fechada previamente planejada. Pensar a música ligada à imagem já é inerente à sua forma de compor. Talvez por uma certa dose de fascínio pelo cinema americano e italiano. Talvez por ter crescido nos tempos do vinil, quando um álbum era pensado dentro de um contexto, de uma unidade. Do lado A e do lado B.
“Pensei em canções que se relacionavam entre si”, atesta o próprio Domenico. Seja inspirado pelo conceito do vinil ou da imagem, foi nessa correlação entre as músicas que Domenico cunhou seu primeiro disco solo, “Cine Prive”.
Até então, o cantor, compositor e multi-instrumentista, invariavelmente, tinha seu nome inscrito nos créditos de trabalhos diversos como um dos protagonistas ou mesmo como coadjuvante. Figura querida e admirada no meio, ele já se misturou à história da Orquestra Imperial, do projeto +2 (com Moreno Veloso e Alexandre Kassin), da cantora Adriana Calcanhotto (acompanhando sua banda), e de tantos outros. Agora, como principal protagonista dessa trama, Domenico pode contar – e cantar – as próprias referências musicais.
E olha que essas referências foram múltiplas, a começar na infância, passando pelas experiências já como músico profissional, até sabe-se lá quando, porque, afinal, Domenico continua na lida. E ele está de peito aberto para que outras referências sejam incorporadas. Filho do compositor Ivor Lancellotti, que já foi gravado por nomes como João Nogueira, Beth Carvalho, Roberto Carlos e Angela Maria, Domenico lembra que o pai, um devoto da música brasileira, não gostava que rock entrasse em casa. “As pessoas que viviam no entorno do meu pai eram do samba. Eu lembro de acompanhá-lo em gravações no estúdio de Clara Nunes, João Nogueira e tantos outros”, conta o músico. “Ele ficava muito irritado com rock, talvez por achar que fosse uma negação da música brasileira. Mas eu escutava mesmo assim”.
Em “Cine Privê”, Domenico cercou-se, de alguma maneira, de sua turma. Além de parceiro nas faixas “Sentidos” e “Pedra e Areia”, Moreno participa do CD como músico e como coprodutor nas sessões realizadas no estúdio Toca do Bandido. Pedro Sá assume guitarra e baixo, além de também assinar “Pedra e Areia” (em parceria, ainda, com Alberto Continentino e Adriana Calcanhotto). Calcanhotto, aliás, foi gentilmente cedida por sua gravadora Sony, para emprestar sua voz nessa mesma música. A Hugo Carvana, Domenico dedica a última faixa do disco, que leva o nome do ator e diretor. E voltase às próprias raízes italianas em “Su Di Te” (parceria com Alberto Continentino), na qual canta em italiano. As informações são do Jornal da Tarde.