Dois homens sem dinheiro nem perspectivas, confinados num quarto de pensão barata à noite e trabalhando num mercadão durante o dia. Em “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, o autor Plínio Marcos, morto em 1999, deixava claro que não precisava de muitos elementos para compor seus personagens marginais complexos e, por meio deles, incitar uma reflexão sobre a condição humana.
No texto original, de 1966, Plínio carregava nas tintas que acabaram por marcar sua obra e lhe deram a pecha de maldito: muitos palavrões, sujeira, escatologia. Inspirado no conto “O Terror de Roma”, do italiano Alberto Moravia, o texto foi montado naquele mesmo ano e estreou no subsolo da Galeria Metrópole, no Centro de São Paulo.
Várias adaptações para o teatro depois – e duas versões cinematográficas -, “Dois Perdidos Numa Noite Suja” reestreia hoje, com montagem da Cia. Triptal de Teatro, no Centro Cultural São Paulo (CCSP). A peça já passou pelo Sesc Vila Mariana e Teatro Sérgio Cardoso. Nessa adaptação, feita a quatro mãos, por Igor Kovalewski e André Garolli (que também assume a direção), os excessos ‘plinianos’ foram limados, sem perder a essência do autor. “A ideia era reescrever o texto, extraindo a poética dele. Queríamos deixá-lo mais limpo da sujeira, dos palavrões, para que essa discussão sobre a falta de entendimento não fosse perdida”, diz o também ator Igor Kovalewski, que divide o palco com Renaldo Taunay.
Em cena, são apenas os personagens Paco e Tonho, dois caixotes e uma malinha. Tudo minimalista, para que a atenção recaia unicamente sobre os dois parceiros e antagonistas, e sua relação conflituosa. Dois sujeitos miseráveis que poderiam estar em São Paulo ou em qualquer outro lugar do mundo onde exista disparidade social. Cada qual com sua história de vida, travando batalhas afetivas e psicológicas entre si.
Tonho é um rapaz pobre que chega à cidade grande, em busca de um emprego melhor. Mas não consegue a ascensão social esperada, pois não é admitido em nenhum lugar. Ele atribui isso à falta de um bom par de sapatos, igual ao de Paco – e o cobiça para ter a sonhada oportunidade. Mau-caráter, Paco sabe do desejo de Tonho e o provoca constantemente. As informações são do Jornal da Tarde.
Dois Perdidos Numa Noite Suja. De hoje a 26/9. Quinta a sáb., 21h; dom., 20h. Centro Cultural São Paulo (R. Vergueiro, 1.000, Paraíso). Tel. (011) 3397-4002. Ingresso: R$ 20 (à venda 2h antes de cada sessão).